A equivocada política do governo federal em manter congelado há mais de oito anos o preço da gasolina e do diesel (foram dados pequenos reajustes em 25/06 e 16/07) — aliada a décadas de má vontade da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) em relação aos veículos que consomem etanol — não poderia ter outro resultado senão um estrondoso e absurdo déficit na conta “derivados de petróleo”, notadamente a gasolina, que analisaremos a seguir.
Não obstante os reajustes citados, ainda existe uma defasagem de no mínimo 20% para que estes combustíveis tenham preços equiparados aos parâmetros internacionais e, assim, a Petrobras possa recuperar o seu prejuízo, resultado dessa política meramente eleitoreira do seu controlador. Afinal, desde 2003, a Petrobras teve um aumento de 323,04% nos custos de extração e de 374,44%, nos de refino (www.petrobras.com.br).
Como já escrevi outras vezes aqui neste Jornal do Brasil, a alegação do governo – o aumento dos combustíveis aceleraria o aumento da inflação – não se sustenta pela simples razão de que, a cada 5% de aumento na gasolina, há um aumento de, no máximo, 0,2% no IPCA (índice que mede o nível de inflação).
No tocante à citada má vontade da Anfavea em relação aos veículos que consomem etanol, ela já é por demais conhecida, visto que as montadoras – todas multinacionais –, não obstante as suas altas margens de lucro (três vezes maior do que as praticadas nos Estados Unidos), nunca se preocuparam em melhorar a eficiência de consumo dos veículos que utilizam esse precioso combustível renovável, limpo e avançado. Há quase 40 anos (o Proálcool foi criado em 14/11/1975), os veículos que utilizam o etanol continuam consumindo 30% mais do que os similares que usam a gasolina.
A presidente Dilma Rousseff, entre tantos temas tratados na sua mensagem em comemoração ao Dia da Independência, disse — referindo-se aos juros escorchantes que os bancos, financeiras e de “forma muito especial os cartões de crédito” cobram dos seus clientes — que não descansará até que essas taxas cobradas ao consumidor final diminuam para “níveis civilizados” (www.planalto.gov.br).
Gostaria que a senhora presidente, também, não descansasse até que a indústria automobilística, sempre privilegiada com benesses governamentais, investisse em tecnologia para assim equipar o consumo dos veículos que utilizam etanol aos que usam gasolina, que, diga-se de passagem, não são assim tão econômicos. Presidente Dilma, essa é a hora de exigir mais da indústria automobilística que, em função dos enormes benefícios recebidos do governo, bate sucessivos recordes de venda (e de lucro!). Que essa indústria dê a sua contrapartida ao consumidor.
A política de tabelamento artificial da gasolina está provocando não somente prejuízo à Petrobras e seus acionistas como, também, um estrondoso déficit na conta de derivados de petróleo e a paulatina destruturação do setor sucroalcooleiro, construído durante anos com o esforço e dinamismo da iniciativa privada.
Para que não fiquem dúvidas, analisemos os números oficiais referentes aos derivados entre janeiro e julho do ano em curso (www.anp.gov.br).
No período citado, houve um superávit de US$ 3,061 bilhões (bi) na conta petróleo, resultado de US$ 11,808 bi com exportações e US$ 8,746 bi, com importações. No tocante à conta “derivados”, os números mostram um tremendo déficit de US$ 4,890 bi, resultado de US$ 6,628 bi com exportações e US$ 11,808 bi com importações. Se não houver nenhuma mudança nesse perfil, chegaremos ao fim de 2012 com um déficit de US$ 8,383 bi na conta “derivados”!
As duas razões principais para esse descalabro são: 1ª) Falta de refinarias; e 2ª) Aumento astronômico no consumo de gasolina, por causa do tabelamento artificial do combustível e da consequente diminuição no consumo de etanol (- 41,69% desde 2009).
Entre 2009 e 2000 (10 anos) foram importados um total de 3,594 milhões de barris (mb) de gasolina A (sem mistura de etanol), para os quais houve um dispêndio de US$ 133,272 milhões. Já entre os anos de 2012 e 2010 (dois anos e sete meses), foram importados 30,377 mb (8,5 vezes +) para os quais foram gastos US$ 3,638 bi (27 vezes +).
Para que os leitores tenham a real dimensão do rombo, que está aumentando a cada dia, em todo o ano de 2011 foram importados 13,754 mb de gasolina A, para os quais foram gastos US$ 1,644 bi. Somente nos primeiros sete meses de 2012, esses números já igualaram os de 2011, pois foram importados 13,445 mb, com um dispêndio de US$ 1,709 bi. E ainda tem gente que é contra a construção de refinarias!
A prevalecer esse consumo de gasolina – o que é hipotético, pois o número de automóveis aumenta cada vez mais, e não sabemos como comportarão os preços internacionais –, chegaremos ao fim de 2012 com uma antes impensável importação de 23,049 mb de gasolina, pelos quais pagaremos US$ 2,929 bilhões.
E tem mais outros agravantes: a produção e exportação de petróleo estão diminuindo, a importação aumentando e as ações da Petrobras indo morro abaixo!
* Humberto Viana Guimarães, engenheiro civil e consultor, é formado pela Fundação Mineira de Educação e Cultura, com especialização em materiais explosivos, estruturas de concreto, geração de energia e saneamento.