Enquanto a Petrobras resiste a repassar para o consumidor a alta do petróleo no mercado internacional, as distribuidoras de combustíveis já começaram a reajustar o preço do álcool, por causa do aumento das cotações do produto. De acordo com dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo), o litro do álcool nos postos brasileiros subiu 3,9% no último mês. Em São Paulo, a alta verificada foi bem superior à média nacional: 7,9%. Já nos cálculos do Sincopetro (Sindicato dos Postos de Combustíveis do Estado de São Paulo), o combustível está ainda mais caro no Estado: entre 10% e 11%.
Segundo o Sincopetro, até agora cerca de 20% do 8,4 mil postos de combustíveis espalhados pelo Estado reajustaram os preços. A expectativa é que até o fim da semana todos os postos do Estado estejam trabalhando com preços novos, prevê o presidente da entidade, José Alberto Paiva Gouveia. Os postos normalmente têm estoque de álcool combustível para uma semana.
As distribuidoras alegam que estão repassando a alta promovida pelas usinas. O preço médio do álcool hidratado no País chegou a R$ 1,192 na última semana. Em São Paulo, onde a alíquota de ICMS é menor, o combustível está custando, em média, R$ 0,968, segundo o levantamento de preços da ANP. A tendência é que o aumento seja ainda maior, já que uma parte dos postos ainda não recebeu o produto com os novos preços.
A gasolina, que é misturada ao álcool anidro para ser vendida nos postos, também começará a aumentar nos próximos dias. Os reajustes promovidos pelas distribuidoras estão em torno de R$ 0,02 a R$ 0,03 por litro. O levantamento de preços da ANP, no entanto, ainda não captou o repasse: segundo a pesquisa, o preço da gasolina caiu 0,28% na última semana. “Mas com certeza o levantamento desta semana já vai verificar um pequeno aumento”, disse um executivo de uma distribuidora.
Açúcar
O impacto do aumento do álcool no preço da gasolina costuma ser imediato, porque os volumes vendidos são maiores. O presidente do Sincopetro diz que não há margem para os postos absorverem essa alta de custos sem repassar para o consumidor. Ele não acredita que ocorra retração nas vendas de combustível por causa disso. “Quem anda hoje de carro está realmente precisando.”
O aumento do preço do álcool combustível é reflexo do excesso de chuvas em abril e maio, que atrasaram a colheita da cana-de-açúcar. Com isso, o preço do álcool, que em abril estava em R$ 0,35 da usina para a distribuidora com a expectativa de uma grande safra, aumentou para R$ 0,55 e atingiu R$ 0,65 nas duas últimas semanas, diz o diretor da Unica (União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo), Antonio de Padua Rodrigues.
O reflexo do atraso na colheita também foi sentido no preço do açúcar, que está cerca de 15% maior em relação a igual período do ano passado. No caso do açúcar, que tem 60% da produção voltada para exportação, observa o diretor da Unica, a escassez da commodity no mercado internacional ajudou a manter os preços num nível elevado. Ao lado do papelão e dos plásticos, o açúcar já é apontado como uma pressão de custos importante para as indústrias alimentícias neste mês.