Mercado

Preço do açúcar alavanca o setor sucroalcooleiro

AGRONEGÓCIO – Unica prevê fechar o ano-safra (abril de 2010 a março de 2011) com faturamento de até R$ 60 bi, 30% a mais do que o registrado na anterior.

Os preços remuneradores do açúcar no mercado internacional conferiram novo fôlego à indústria sucroalcooleira, que deve alcançar na safra de 2010/2011 o melhor faturamento dos últimos anos.

Segundo o diretor-técnico da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), Antonio de Padua Rodrigues, a expectativa do setor é fechar o ano-safra, que começou em abril do ano passado e termina em março, com faturamento de até R$ 60 bilhões, crescimento de mais de 30% frente aos cerca R$ 45 bilhões registrados na última safra. Para o ciclo 2011/2012, as expectativas são ainda melhores.

“Em 2011, o preço do açúcar deverá alcançar patamares ainda mais altos do que os registrados em 2010. Dessa forma, ainda que a prod ução de cana-de-açúcar não cresça tanto quanto em 2010, os preços elevados deverão garantir crescimento ao setor em termos de faturamento”, afirma Padua.

Ele explica que, em 2010, assim como aconteceu com outras commodities, o preço do açúcar atingiu patamares não vistos há 30 anos, chegando a ser cotado na Bolsa de Nova York, principal referência internacional para o mercado do açúcar, a US$ 0,30 por libra-peso, enquanto a média histórica varia de US$ 0,12 a US$ 0,14.

O analista do setor sucroalcooleiro da Informa Economics FNP, Bruno Bosz, explica que, com os preços internacionais em máximas, o açúcar liderou a preferência das usinas brasileiras em 2010, em detrimento do etanol. “As usinas mistas, que produzem tanto açúcar quanto etanol, procuraram ao máximo otimizar a produção açucareira, que realmente levou aos empresários maior rentabilidade, prejudicando de certa forma a produção do etanol”, explica Bosz.

“Isso possibilitou uma recuperação financeira bem interessante ao setor em 2010, beneficiando principalmente as usinas prejudicadas há dois anos pela crise global”, acrescenta.

O analista, contudo, antevê um cenário bastante animador para a produção de etanol, apesar do atual viés mais açucareiro.

Ele explica que, atualmente, 50% da frota total de veículos do País consomem o etanol. “Toda a frota flex, que só tende a crescer, demandará cada vez mais sua produção, principalmente em razão do preço mais interessante que o da gasolina. Essa demanda crescente é o que vai dar fundamento e suporte para sua expansão”, observa Bosz.

Ele acrescenta ainda que, a longo prazo, o Brasil será um dos países com maior capacidade para suprir também a demanda externa do combustível, caso outros países do mundo adotem uma política mais eficaz para o uso de combustíveis alternativos, como já acontece no País atualmente.

“O etanol é, sem dúvida, um segmento com tendência de expansão”, enfatiza.

PRODUÇÃO. Segundo estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgadas no início do mês, a produção nacional de cana-deaçúcar moída pela indústria sucroalcooleira na safra 2010/2011 deverá alcançar 624,9 milhões de toneladas. O número é mais um recorde para o setor e representa aumento de 3,4% na produção total em relação ao ciclo 2009/2010.

Do total de cana a ser esmagada, 46,2% vão para a produção de 38,7 milhões de toneladas de açúcar, número bem acima da safra passada, quando foram produzidas 33 milhões de toneladas. Os 53,8% restantes são destinados à produção de 27,7 bilhões de litros de etanol.

O aumento da produção de cana se deve ao crescimento da área e da operação de novas usinas em alguns estados. Em 2010, segundo o diretor técnico da Unica, entraram em atividade no País oito usinas, que demandaram investimento de cerca de US$ 3,2 bilhões.

Em 2011 , entretanto, o diretor acredita ser difícil bater o recorde de produção da safra e aguarda uma repetição desses níveis, já que é esperada a inauguração de apenas quatro usinas, em aporte de cerca de US$ 1,6 bilhão. Para efeito de comparação, ele cita o ano de 2008, período anterior à crise global, quando 30 unidades entraram em atividade no País.

INVESTIMENTOS. Padua aproveita para alertar quanto à necessidade da retomada de investimentos na ampliação da capacidade de produção da cana no Brasil, considerando a restrição da oferta de açúcar em importantes países produtores, como a Índia, e a demanda cada vez mais crescente por etanol por conta do aumento da frota de veículos flex.

Ele lamenta, entretanto, a falta de previsão para que novos projetos sejam iniciados, pelo menos no curto prazo.

“Em 2008, com a crise financeira, todos os investimentos foram praticamente paralisados.

É preciso haver uma retomada de novos projetos por parte dos empresários do setor, tanto na expansão do plantio da cana, quanto na ampliação da capacidade de moagem das usinas.

Só assim poderemos assistir a um novo ciclo de crescimento da oferta de cana-de-açúcar no País”, enfatiza o diretor.