O presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli de Azevedo, afirma que a empresa está disposta a aceitar uma regulamentação para a expansão da produção de etanol para garantir que o combustível não afete áreas destinadas à produção de alimentos ou que prejudique o meio ambiente.
Para Gabrielli, o real problema são os subsídios americanos para a produção do etanol a partir do milho. O executivo confirma os planos da empresa brasileira de duplicar sua produção de petróleo até 2015.
Nesta semana, Gabrielli participa da cúpula de empresas de todo o mundo na sede das Nações Unidas, sobre como o setor privado pode ajudar a reduzir a pobreza e combater problemas ambientais no mundo.
Para a Petrobrás, sua parcela de contribuição está nos esforços para ampliar as energias limpas no total do consumo energético do País nos próximos anos. Em sua avaliação, a ameaça de que o combustível poderia gerar danos ambientais e aumentar o valor dos alimentos pode ser “minimizada” com regulamentações. “Temos de proteger áreas florestais e áreas de produção de alimentos. Para isso, precisamos de regulamentação governamental.”
Outra opção, segundo ele, é a certificação dos fornecedores de cana-de-açúcar. “Estamos estabelecendo contratos com os produtores de cana para garantir a proteção ao meio ambiente, às condições sociais e para evitar trabalho infantil.”
Na avaliação da Petrobrás, porém, os reais problemas provocados pelo etanol não vêm do Brasil, mas dos subsídios do governo americano para a produção de milho como base para o biocombustível. “Os Estados Unidos estão subsidiando o cultivo errado. O milho não é eficiente e a proteção aos fazendeiros nos Estados Unidos está gerando vários problemas. Para que tenhamos uma expansão da produção, precisamos de regulamento para minimizar as questões sociais e ambientais na produção de alimentos ”, disse Gabrielli.
Os subsídios ainda são considerados os principais obstáculos para a exportação do etanol brasileiro ao mercado americano. “Os subsídios são medidas protecionistas”, afirmou o presidente da Petrobrás. Há duas semanas, em Genebra, o secretário de Agricultura dos Estados Unidos, Mike Johanson, deixou claro que não haveria mudança nas leis americanas para o etanol até 2009.
Quem também ataca o uso do milho é o economista Jeffrey Sachs. Em declarações ao Estado, o americano alerta que “o modelo de desenvolvimento do etanol a partir do milho não é ideal e já está gerando uma alta nos preços de alimentos”.
Para que o comércio de etanol no mundo seja possível, a Petrobrás ainda defende “mudanças estruturais nos países consumidores”. Na avaliação de Gabrielli, os governos precisam facilitar a introdução do etanol para que o combustível possa concorrer de igual para igual com o petróleo. Isso significaria incentivos para a distribuição e mesmo para a substituição dos motores dos carros para que aceitem o novo combustível.
Um estudo publicado ontem pela Goldman Sachs aponta que os governos terão de investir US$ 460 bilhões até 2020 se de fato quiserem atingir as metas recentemente estabelecidas de ampliação do uso do etanol. Na Europa, os governos querem que 5,75% de todo o combustível usado na região venha dos biocombustíveis.
PRODUÇÃO
Gabrielli destacou os planos da Petrobrás para aumentar a produção de petróleo até 2015. A empresa passará a extrair 3,5 milhões de barris de petróleo por dia em 2011, contra um volume atual de 2,3 milhões de barris. Até 2015, esse número deve chegar a 4,5 milhões de barris.
“Estamos entre as empresas de petróleo que mais crescem hoje no mundo.” Questionado se esse aumento da produção prevista até 2015 ocorreria graças a novas áreas de exploração no Iraque e Irã, Gabrielli negou. “Temos só uma pequena exploração no Irã, e não há planos de ampliá-la.”
FRASES
José Sérgio Gabrielli
Presidente da Petrobrás
“Temos de proteger áreas florestais e áreas de produção de alimentos. Para isso, precisamos de regulamentação governamental”
“Os Estados Unidos estão subsidiando o cultivo errado. O milho não é eficiente e a proteção aos fazendeiros nos Estados Unidos está gerando vários problemas sociais e ambientais”
Jeffrey Sachs
Economista
“O modelo de desenvolvimento do etanol a partir do milho não é ideal e já está gerando uma alta nos preços de alimentos”