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Poupança deve recuperar fôlego e Bovespa se firmar em 2004

Em 2003, as retiradas da caderneta de poupança superaram em R$ 10 bilhões o volume de depósitos, segundo dados do Banco Central. Ao mesmo tempo, os fundos de investimento encerraram o ano com captação líquida recorde de R$ 59,9 bilhões. Apenas os fundos de renda fixa, principais concorrentes da poupança, captaram R$ 29,7 bilhões. A tendência de migração, no entanto, não deve ter seqüência em 2004, na avaliação de consultores e analistas de mercado.

Na comparação com outros investimentos, a caderneta vem perdendo em rentabilidade e flexibilidade. Em 2003, o rendimento da poupança ficou em 11,1% – acima da inflação (8,71% pelo IGP-M), mas bem abaixo dos fundos DI, por exemplo, que, por acompanharem a taxa básica de juros (Selic), tiveram rentabilidade média de 23% no ano.

A falta de atratividade da poupança é explicada pelo matemático Luciano Fazio, consultor de diretoria do Fundo de Pensão da Caixa Econômica Federal (FUNCEF), como resultado da combinação de três fatores:juros altos, inflação decrescente e TR muito baixa. “O ano passado foi atípico. Em 2004, o cenário é outro”, afirma Fazio. Isto porque os juros tendem a baixar e a poupança é a única aplicação de renda fixa não vinculada à Selic.

Fazio acredita que, com uma taxa Selic na faixa dos 16%, os fundos deverão render entre 13% e 14% em 2004. Como estas aplicações são submetidas a Imposto de Renda, a rentabilidade será próxima à da poupança. Por outro lado, a poupança continuará como melhor opção para o pequeno poupador, uma vez que não exige abertura de conta bancária ou comprovante de rendimentos e não tem taxas. “A poupança vai se tornar concorrencial naturalmente e a sangria de recursos vai estancar”, avalia. Ele acredita, inclusive, numa recuperação de depósitos, caso a taxa Selic continue em queda.

O economista Murilo Barella, técnico do Dieese, acredita que a migração de recursos da poupança para os fundos pode ser explicada também como um movimento de retorno de aplicadores que em 2002 haviam feito o caminho inverso. Barella lembra que naquele ano a fuga de recursos dos fundos chegou a R$ 64,7 bilhões em razão da turbulência de um ano eleitoral e das perdas provocadas pela marcação a mercado dos títulos que compõem os fundos – exigência do Banco Central.

“A marcação mexeu com a expectativa do mercado financeiro”, avalia o economista. Não por acaso, na mesma época cresceram os depósitos em poupança e as cadernetas encerraram 2002 com saldo positivo (depósitos menos resgates) de R$ 10,68 bilhões.

Já em 2003, com regras de mercado mais definidas e Selic em alta, os fundos recuperaram credibilidade junto aos aplicadores, acredita Barella.

Em 2004, a bola da vez é a Bolsa de Valores, na opinião de Barella. A tendência já vem se verificando desde o final do ano passado – prova disso é que as pessoas físicas já aparecem em segundo lugar no ranking de investidores da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), responsáveis por 24% do movimento total de 2003.

Se a teoria se confirmar, Barella acredita que será um ganho para o país. “A Bovespa é uma instituição financeira que tem como lógica baratear o financiamento do setor produtivo, pois elimina o intermediário, que é o banco”, explica. E vai além: “A forma de captação de recursos não pode ser apenas via banco, mas via mercado”. Um alento para quem acredita que a fuga de recursos da poupança pode colocar em risco projetos de governo para áreas como habitação e agricultura. (Fonte: Agência Brasil)