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Potencial gaúcho é pequeno

O Brasil tem pelo menos 70,8 milhões de hectares improdutivos que poderiam ser ocupados para o cultivo de alimentos e de matérias-primas para biocombustíveis. Pela área calculada pela WWF-Brasil, maior organização ambientalista do mundo, o país teria capacidade para dobrar a atual área agrícola sem desmatar nem avançar no bioma amazônico e no cerrado.

No Rio Grande do Sul, onde a agricultura ocupa hoje cerca de 7,074 milhões de hectares, a área em potencial a ser explorada seria relativamente pequena: 35,160 mil hectares.

O estudo inédito da WWF foi apresentado na quarta-feira passada, durante o Fórum Internacional de Seguros para Jornalistas, promovido pela Allianz Seguros e realizado em São Paulo. O principal desafio apontado pelo levantamento é que, para aumentar a produção sem destruir a mata, seria preciso recu! perar pastos degradados (16,1 milhões de hectares), pobres para agricultura, ainda que ocupáveis.

– O grande nó é como estimular o avanço da agricultura em áreas de pastagens improdutivas. É preciso desenvolver políticas públicas e instrumentos de mercado eficientes – ressaltou Cássio Franco Moreira, coordenador do Programa Agricultura e Meio Ambiente da WWF.

Atualmente, o governo brasileiro não tem uma política de incentivos para estimular a preservação da floresta nem para reaproveitamento de áreas. Com o aumento da demanda por alimentos e biocombustíveis, a tendência natural é de que os agricultores ampliem a produção ao custo de desmatamento de áreas de preservação ambiental.

Para traçar para onde deve seguir a expansão da agricultura brasileira, o estudo da WWF levou em conta, além das áreas, a logística para exportação da produção e o custo das terras. No Sul, o sistema de logística foi qualificado como excelente, mas o preço alto das propriedades, 20 a ! 30 vezes maior do que no Nordeste, por exemplo, e a baixa capacidade de expansão, fizeram com que a região ficasse na última colocação. Outro aspecto negativo, segundo Moreira, são as mudanças climáticas que já vêm interferindo no regime das chuvas e comprometendo a colheita de grãos no Rio Grande do Sul. Devido ao clima, a tendência é que a área plantada no Sul, no futuro, seja reduzida em vez de aumentar, afirmou Moreira.

Ao se referir ao Rio Grande do Sul, Antonio Penteado Mendonça, advogado com especialização em planejamento regional para ocupação do solo, que participou do fórum como debatedor, foi enfático:

– O Rio Grande do Sul, que sempre foi tido como um dos solos mais férteis do país, está passando por um processo de desertificação devido às mudanças no clima.

A preocupação da WWF com a área em potencial para a expansão da agricultura está diretamente relacionada ao desmatamento, às emissões de gases de efeitos estufa e às mudanças no clima. Karen Suass! una, analista sênior do Programa de Mudanças Climáticas e Energia do WWF-Brasil, defendeu, em São Paulo, que é preciso uma convergência maior entre as políticas agrícola, energética e de transporte no país, sem o que a expansão sustentável da agropecuária será inviável.