O anúncio do governo de que o porcentual de álcool anidro na gasolina irá ser reduzido de 25% para 20%, a partir de amanhã, ainda não foi suficiente para garantir que os preços do álcool hidratado – próprio para os veículos flex – e o da gasolina irão baixar para o consumidor final, que há meses assiste o preço do etanol subir, mesmo no atual período da safra da cana de açúcar.
“Alterações nos preços dos combustíveis para o consumidor vão depender das usinas e do repasse das distribuidoras para os postos”, esquivou-se na tarde de ontem, o presidente do Sindicato dos Donos de Postos de Combustíveis (Sindpostos-CE), Guilherme Meireles.
“Se baixarem (usinas e distribuidoras), o mercado (postos) vai baixar”, complementou Meireles. Para ele, a perspectiva do setor é de que os preços do etanol caiam, tendo em vista o grande volume de álcool anidro (5%), que deixará de ser adquirido das usinas pelo governo para adicionar à gasolina e que passará a ser ofertado no mercado.
Gasolina
Por outro lado, Meireles avalia que os preços da gasolina possam até subir, dependendo do volume do produto que o governo brasileiro terá de comprar no mercado externo, para suprir o mercado com a nova composição da gasolina com 20%, e não mais 25%, de álcool anidro. “Agora, o governo vai precisar importar mais gasolina, porque nos falta capacidade de refino”, expõe Meireles.
Para ele, apenas uma coisa é certa: dificilmente o preço do álcool voltará a ser competitivo, ou seja, mais vantajoso, do que o da gasolina para o consumidor e para os próprios donos de postos. “Para voltar a ser atraente, o litro do álcool teria de voltar a custar R$ 1,85”, calculou Meireles, comparando com o preço mínimo da gasolina comum, que hoje varia entre R$ 2,61 e R$ 2,79, nos estabelecimentos de Fortaleza, com preço médio em torno de R$ 2,65. Atualmente, o preço do litro do álcool oscila entre R$ 2,09 e R$ 2,19, valor até 15,8% superior ao preço máximo de R$ 1,89, praticado no início deste ano. “Neste ano, a margem (de lucro) do álcool já caiu um terço, de 12%, em fins de 2010, para 8%, hoje”, reclamou.
Entressafra
Meireles ressalta, no entanto, que a preocupação maior do setor está na entressafra da cana de açúcar no Sudeste, cujo período começa em novembro próximo. “Se na safra, os preços do etanol já estão nesse patamar, imagina quando chegar a entressafra”, exclamou o empresário, ao sugerir que Petrobras, Raizem e Ypiranga – maiores fornecedores de combustíveis do País – entrem forte na produção de etanol, como forma de reduzir o “poder” dos usineiros.
Em contrapartida, o setor sucroenergético critica a Agência Nacional do Petróleo (ANP), acusando-a de tentar disciplinar a produção de etanol no País. “Pelo material divulgado pela agência, vejo uma tentativa de assumir o controle total sobre o setor, desde a licença para investir, para produzir, construir novas usinas, até autorizações para operar “, opina o gestor de riscos da Archer Consulting, Arnaldo Corrêa.
Segundo a Archer, a frota de veículos leves no Brasil deverá alcançar 41,6 milhões de unidades até 2016, dos quais 65% serão flex, o que exigirá moagem de 830 milhões de cana, considerando os mercados interno e externo de açúcar. “Isso significa crescimento de 10,6% por ano, necessidade de 50 novas usinas e investimentos de US$ 40 bilhões”, conclui.
PRODUÇÃO DE ÁLCOOL
Tributação para usinas será reduzida
O objetivo da medida é estimular a produção de etanol e atrair novos investidores para o setor sucroalcoleiro do País
Brasília. O governo irá reduzir a tributação das usinas de cana-de-açúcar produtoras de etanol. O objetivo é estimular a produção do combustível e atrair mais investidores. Segundo o secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Manoel Bertone, haverá uma diminuição de PIS/COFINS para essas empresas.
Bertone também informou que o governo irá usar recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para financiar o tratamento e a renovação de canaviais. Segundo ele, esse financiamento será dado aos produtores com taxas de juros mais baixas.
Financiamentos novos
“O Ministério da Fazenda está preparando essas medidas e devem ser anunciadas em breve. Envolvem medidas de cunho fiscal, como o PIS/COFINS. Financiamento para renovação e tratamento dos canaviais detidos pelas usinas. Serão recursos do BNDES e a taxa de juros será diferenciada”, afirmou Bertone.
“Queremos aumentar o volume de financiamento, a taxas de juros mais adequadas, de modo que os canaviais possam ser renovados na sua plenitude”, declarou Bertone.
Na última segunda-feira o governo anunciou a redução de 25% para 20% do teor de álcool anidro misturado à gasolina vendida nos postos do país. A medida foi tomada para tentar evitar a falta de etanol no mercado, diante do aumento excessivo nas últimas semanas. “O principal motivo dessa redução é a segurança energética. Essas são medidas que proporcionem aos investidores uma melhor atração. Para que o país possa se beneficiar desse produto”, explicou Bertone.
Composição
20% de álcool anidro e 80% de gasolina terá a nova composição da gasolina comum para veículos, a partir de amanhã
CARLOS EUGÊNIO
REPÓRTER