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Portugal tem agenda ambiciosa para UE

Pela terceira vez na presidência do bloco, Lisboa quer melhorar comércio com o Brasil. Ao assumir pela terceira vez a presidência rotativa da União Européia em julho, Portugal tem planos de uma agenda ambiciosa. “Serão de 3.200 a 3.600 reuniões de vários níveis, desde as seis cúpulas previstas no semestre, passando pelas ministeriais até as reuniões técnicas”, diz o secretário geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Fernando dOliveira Neves. Entre as seis cúpulas previstas para o semestre, Lisboa inaugurará a presidência da UE com a primeira reunião União Européia-Brasil, que terá a assinatura de um memorando para um acordo estratégico bilateral, voltado principalmente para a aproximação política e o intercâmbio tecnológico no setor energético, especialmente no setor de biocombustíveis. “Queremos que a UE reconheça a importância regional que o Brasil tem, especialmente na América Latina, onde o bloco precisa estreitar os laços. E com esse reconhecimento estratégico do Brasil visa reforçar a colaboração européia com o Brasil”.

Segundo o embaixador, com essa parceira estratégica, o Brasil vai ganhar o status que ele merece pela sua importância econômica e geográfica. “Esse status é comparável aos Estados Unidos, Rússia, China e Índia”. Ele admite que o acordo não traça medidas de redução de tarifas comerciais ou algo parecido mas poderá servir de base para um acordo comercial futuro.

“Essa parceria estratégica poderá, inclusive, ajudar a acelerar as negociações da Rodada Doha”, afirma Neves.

Iniciadas em 2001 na capital do Catar, as negociações para a liberalização do comércio global na Organização Mundial do Comércio (OMC), ou Rodada Doha, estancaram por um impasse entre as propostas da UE, Estados Unidos e dos países em desenvolvimento liderados por Brasil e Índia (o chamado G20) para a finalização de um acordo até o final deste ano. “A UE fez concessões muito interessantes e os países em desenvolvimento precisam reconhecê-las e abrir seus mercados. Acredito que todos os países têm consciência da importância do sucesso da Rodada Doha. A abertura dos mercados é o principal fator para o desenvolvimento econômico”.

O embaixador ressalta o “espírito expansionista português” na UE, que acaba de completar cinqüenta anos. “Portugal tem tido um papel marcante na abertura das relações exteriores da Europa desde o seu ingresso em 1976, quando juntamente com a Espanha começamos a criar uma ponte entre a Europa e a América Latina e a África. Em 2000 (quando Lisboa presidiu a UE pela segunda vez. A primeira foi em 1992), tomamos a iniciativa da realização de uma primeira cimeira UE-Índia, em Lisboa, e UE-África, no Cairo. Antes, a Europa estava mais centrada em si mesma”.

Além da cúpula UE-Brasil, Neves informa que também estão previstas as cimeiras com Rússia, China, Índia, Ucrânia e África. Na opinião do embaixador, que foi o porta-voz da presidência do Conselho da UE em 2000, está na hora de a União Européia firmar uma parceira estratégica com o Brasil. “O Brasil era o único dos Brics (grupo dos principais emergentes integrado por Brasil, Rússia, Índia e China) que ainda não tinha uma cimeira institucionalizada e a assinatura de um acordo estratégico”.

Neves participou ontem à noite do evento voltado para empresários portugueses na capital paulista “A terceira presidência portuguesa na UE: Significado político e oportunidades para o Brasil”, organizado pela Câmara Portuguesa de Comércio no Brasil e o Consulado geral de Portugal em São Paulo.

Outro objetivo de Lisboa com a aproximação estratégica do UE-Brasil é uma melhoria nas relações comerciais entre Brasil e Portugal, que tem grande volume de investimentos no País. “Com essa aproximação, o Brasil poderá utilizar Portugal como plataforma de exportação de seus produtos na Europa, como os EUA fez com a Irlanda e como a China e a Índia já começaram a fazer com Portugal”, acrescenta.

O embaixador lembra que o Brasil ainda importa muito pouco de Portugal, que tem uma balança desfavorável. “Existe no Brasil uma imagem menos realista do que é Portugal hoje. O país é visto como importante exportador de vinhos e azeite, mas também temos potencial para exportar microprocessadores e equipamentos”, diz ele acrescentando que México e Angola importam um volume muito maior do que o do Brasil. “Angola importa cinco vezes mais que o Brasil”.