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Porto de Santos: boas perspectivas

Foi acertada a decisão da Codesp de negociar com o Ministério dos Transportes a antecipação do início das obras das avenidas perimetrais em troca do adiamento da abertura do túnel sob o canal de navegação, ligando as margens esquerda (Guarujá) e direita (Santos) do Porto de Santos. Com isso, haveria uma redução dos custos para a construção do novo sistema de R$ 790 milhões para R$ 440 milhões. E as avenidas perimetrais, se iniciadas num prazo de um ano, poderiam estar concluídas no primeiro semestre de 2009. Falta, agora, que o Ministério dos Transportes tenha o bom senso de concordar com a proposta, já que parece mesmo difícil que haja recursos para a execução de todo o projeto dentro desse prazo.

A proposta da Codesp inclui uma estratégia que evitaria a realização de mais de uma concorrência pública, pois a empresa escolhida para construir o novo sistema rodo-ferroviário também faria o projeto das avenidas perimetrais. Com isso, a estatal pouparia o tempo que se gasta a cada nova licitação com a escolha da empresa responsável pelo estudo e relatório de impacto ambiental (EIA-Rima) e a análise do Ibama, que sempre tem até um ano para se manifestar. Se a Codesp tiver de cumprir o cronograma original, só ao final de 2007 é que as obras terão início.

Enquanto o poder público perde muito tempo com burocracia e trabalha a passo de cágado, a iniciativa privada não espera. A curto prazo, está prevista a conclusão do Terminal Intermodal de Santos (TIS), o primeiro terminal exclusivo para exportação de álcool da América Latina, com investimentos de R$ 100 milhões feitos por uma parceria entre os grupos Ultra, Cargill e Crystalsev.

Com o início de suas operações previsto para março, o TIS surge exatamente num momento em que Japão e China, em razão de acordos ambientais, começam a ampliar sua demanda por álcool.

Em breve, estará em funcionamento o Terminal de Exportação de Veículos (TEV), implantado pela Santos Brasil na área de expansão do Terminal de Contêineres (Tecon), o Tecon 2, com 180 mil metros quadrados e 310 metros de cais, na margem esquerda. Em sua construção, a Santos Brasil está investindo R$ 36 milhões.

O TEV será alternativa ao pátio da Deicmar, hoje o único escoadouro de automóveis do complexo portuário. A Deicmar, que era responsável por 90% da movimentação de automóveis para a exportação em Santos, irá, por sua vez, aumentar o seu pátio, de 300 mil unidades para 375 mil.

Também a construção, ampliação e reforma dos terminais açucareiros deverão ser concluídas neste ano pelas operadoras Copersucar, Teaçu e Cosan, que investiram cerca de R$ 102 milhões. Ao mesmo tempo, o setor graneleiro investe na expansão do Terminal XXXIX, aumentando a capacidade do equipamento para embarcar grãos e farelos.

Da mesma maneira, a Santos Brasil tem planos de ampliação para os terminais de contêineres a fim de que possam receber novos equipamentos. Para tanto, pretende investir cerca de R$ 54 milhões. O Terminal de Contêineres da Margem Direita (Tecondi) estuda a construção de um berço de atracação com um custo estimado em R$ 90 milhões. E, a longo prazo, o porto deverá contar com o Terminal da Empraport, do grupo Coimex, e o Terminal de Granéis de Guarujá (TGG), que, quando concluídos, poderão movimentar até 10 milhões de toneladas por ano.

Além desses investimentos privados, há a esperança de que a lei da Parceria Público-Privada (PPP) venha a ajudar o governo a superar velhos problemas, que estrangulam o escoamento de cargas pelo Porto. Por princípio, o mecanismo tira do governo os gastos com o orçamento do Porto, transferindo-os para as empresas privadas, que, em contrapartida, terão de recuperar seus investimentos e obter lucros com concessões a serem feitas pelo poder público. Encontrar a justa medida é que são elas.

Seja como for, são promissoras as perspectivas que se abrem neste início de ano. O que se espera é que tanto o governo como o setor privado desenvolvam articulação política que garanta o progresso do Porto de Santos no menor espaço de tempo possível.

Milton Lourenço

Especialista em logística

São Paulo, SP