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Por que não só Etanol Anidro?

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No ano de 2.011, onde o aumento de consumo de combustíveis foi de 3% face ao ano anterior, a gasolina C teve um peso significativo, apresentando um crescimento de 18,8%, atingindo 35.400 m3, ai incluído 8.380 m3 de etanol anidro. Já, o etanol hidratado, apresentou uma redução de 28,9% e as razões desta redução estão suficientemente exploradas e esclarecidas pela imprensa.Estes dados nos trazem uma realidade controversa em relação ao que vinha acontecendo nos anos anteriores, onde o consumo de etanol como um todo – anidro e hidratado – já superava o consumo de gasolina A, com uma tendência acelerada de suplantá-la em larga escala num breve espaço de tempo.

Para os 50% de veículos do Ciclo Otto circulando no país, nada foi percebido além da preocupação de se fazer cálculos nos períodos em que o etanol ameaçava ultrapassar a relação de 70% do preço da gasolina. Depois da consolidação de sua inviabilidade econômica para o consumidor, o abastecimento com gasolina passou ser rotina, exceto para os adeptos do uso do etanol, independente de seu preço.Somado a isso, com o propósito de evitar um colapso ainda maior do “combustível brasileiro”, repetindo o final dos anos 80, o Governo sinalizou que a mistura de etanol anidro a gasolina A poderia ser reduzida para até 18%, aumentando ainda mais o consumo de gasolina e, não tanto de etanol anidro – que foi importado em volume 3 vezes maior que o do ano anterior.

Para atender o aumento repentino de consumo, a Petrobras teve que importar 15% de toda gasolina A consumida no país, pois não possui capacidade de refino para atender uma demanda crescente e não prevista.Sem entrar nas considerações econômicas que todas estas alterações trouxeram e podem trazer, parece não mais fazer sentido o Brasil trabalhar com 2 tipos de Etanol – Anidro e Hidratado – se um só tipo, poderia colocar-nos novamente na vanguarda do uso e produção de combustíveis limpos, dar plena aplicação aos motores flexfuel, reduzir os custos logísticos, reverter imediatamente a posição de importador para exportador de etanol anidro, além de permitir ao Governo estabelecer o tão reclamado Marco Regulatório para os combustíveis do Ciclo Otto, dando segurança aos novos e atuais investimentos para o setor produtivo do Etanol no Brasil.

A proposta é ter no Brasil somente Etanol Anidro, misturado a gasolina A numa proporção progressiva até atingir 40% – acredito não existir qualquer restrição a esta porcentagem, afinal os veículos flexfuel até 2.015 atingirão a marca de pelo menos 80 % da frota brasileira – consumindo Etanol Anidro em volumes anuais próximos a 10 milhões de m3 em 2.012, 12 em 2.013, 16 em 2.014 e 20 milhões de m3 em 2.015. Ou seja, progressivamente, o percentual de mistura que voltaria aos 25% já em 2.012, chegaria aos 40% em 2.015, dando suficiente tempo para o setor produtivo se preparar para esta alteração.

Os dados consideram um crescimento de 5% aa no consumo de combustíveis do Ciclo Otto. Considerando que a capacidade instalada de produção de etanol no Brasil já atinge os 30 milhões de m3 safra – sendo 10 milhões de m3 em Anidro – não há o que temer pela falta de investimentos na área industrial, sendo somente necessário continuar com as políticas de incentivo para recuperação dos canaviais. Acontecendo conforme sugerido e, ainda mantendo por um determinado período a oferta ao consumidor de Etanol Hidratado, o Brasil estaria imediatamente apto a exportar cerca de 4 a 5 milhões de m3 de Etanol Anidro, basta ter cana.

A demanda crescente de gasolina A estaria em consonância aos planos de produção da Petrobrás, atingindo um consumo próximo a 30 milhões de m3 em 2.015, evitando a importação deste derivado que tanto prejudica nossa balança de pagamento.Para os futuros investimentos no setor sucroenergético, esta medida daria uma credibilidade maior, diminuindo os riscos e tornando mais provável a transformação do Etanol Anidro em commodity, sonho antigo dos produtores brasileiros.

Ainda, cabe ressaltar a maior vantagem dentre todas: a tão cantada em prosa e verso relação de preços entre a gasolina C e o Etanol Hidratado de 70%, deixaria de existir, passando o produtor de Etanol enxergar seu produto num mesmo patamar da gasolina, independente dos usos políticos e/ou econômicos que se fizer(em) dela e, para o consumidor, evitaria a escolha, além da certeza de estar utilizando um combustível padronizado, em consonância com as recomendações dos distribuidores de combustível e montadoras de carros. Isto sem falar das vantagens relacionadas a diminuição do fraude e respectivos gastos para seu controle, fato que no final, não acontece.

Para o setor sucroenergético, seria uma opção importante neste momento de falta de matéria prima, permitindo um planejamento a médio/longo prazo condizente com este agro negócio, além da certeza de poder contar com um mercado externo importante e, quem sabe, cativo, dando uma nova dimensão as suas atividades.Sem dúvida, a proposta não deve ser encarada simples como pode parece ser, mas não existe dúvida quanto a capacidade do setor sucroenergético, Anfavea, Distribuidores de Combustível e Governo resolverem de forma racional e adequada, permitindo um ganho considerável na conquista definitiva e a longo prazo do uso do etanol como combustível, seja ela econômica, estratégica e/ou sustentável.