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Por que insistem em desvalorizar a eletricidade da cana?

Por que insistem em desvalorizar a eletricidade da cana?

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revisou suas projeções econômicas e estima crescimento de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020. Anteriormente, a previsão era de alta e 2,1%. A estimativa atesta a confiança no crescimento econômico do Brasil depois de vivenciar crise acentuada a partir de 2015.

Para embasar a estimativa, o Ipea leva em conta que a retomada hoje lenta da economia pode se intensificar. E essa aceleração virá com a viabilidade de reformas que promovam investimentos em infraestrutura e consolidação do ajuste fiscal. Em que pese o otimismo da previsão do Ipea, há de outro lado um tema preocupante. É o fornecimento de eletricidade para atender a previsão de alta do PIB.

A eletricidade feita por hidrelétricas, principal fonte de geração, depende das condições meteorológicas. Quanto mais chuva, melhor para abastecer as barragens das usinas. Mas não é possível garantir com precisão se essa geração crescerá em 2020.

A escassez de chuvas foi registrada até a primeira quinzena de setembro último, período que costuma ser chuvoso. Essa situação explica a manutenção da bandeira vermelha no mês. A bandeira vermelha, que já havia sido adotada em agosto, é empregada para forçar a redução de consumo de energia com o custo maior da eletricidade. Sua adoção explica, também, o temor pela escassez da oferta.

Outro indicativo da preocupação dos agentes públicos com oferta de eletricidade é a adoção, pelo Ministério de Minas e Energia, de consulta pública para revisar extraordinariamente a oferta de energia de grandes hidrelétricas e térmicas do país. A nota técnica foi publicada na segunda quinzena de setembro e a revisão vale para até 2021. O Ministério está coberto de razão ao adotar medidas para rastrear a oferta de energia nos próximos anos. Em nosso entender, o Ministério poderia ir além. Deveria, por exemplo, dar melhor papel para fontes de geração de eletricidade a partir da biomassa.

A maioria da fonte biomassa como geradora de energia sai dos canaviais. Existem quase 10 milhões de hectares com cana espalhados por vários estados, com 350 unidades produtoras, sendo que 160 delas exportam eletricidade para ao mercado.

Como em sua maioria as unidades ficam próximas de linhões de transmissão das concessionárias, também fica viável conectar essa eletricidade de biomassa à rede de energia. Há mais um grande ponto em favor da biomassa de cana: as usinas produzem na safra entre abril e dezembro, justamente o período no qual há estiagem e as usinas hidrelétricas não garantem 100% de produção.

Em tese, o cenário seria positivo para a eletricidade a partir da biomassa. Mas, por questões não esclarecidas pela política e órgãos públicos da área, ela fica sempre relegada a segundo ou terceiro plano. Basta ver o caso dos leilões oficiais de compra de energia realizados pelo Governo. Em 2018, apenas 27 megawatts médios (MWM) foram comercializados pela biomassa. Foi o pior ano de contratação de novos projetos desde 2009, segundo Zilmar de Souza, gerente de bioeletricidade da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA). A situação está ruim também em 2019. No primeiro leilão de contratação, apenas um empreendimento de biomassa saiu vencedor. Outro teste virá no próximo dia 18 deste mês de outubro. Dessa vez, há 25 empreendimentos de biomassa inscritos.

Em que pese o bom número de inscrições, no entanto, não é possível garantir o êxito deles no leilão. Isso porque a fonte biomassa concorrerá diretamente com os preços de outras fontes, cujos custos de geração são menores, ainda que também apresentem menores quocientes de sustentabilidade. A reivindicação das entidades do setor por leilão específico para a biomassa é antiga. E precisa ser novamente reiterada com força! O JornalCana, como agente de conteúdo do setor, está mobilizado para divulgar e agir focado na defesa da bioeletricidade. Afinal, o setor pode ampliar em 80% sua oferta de energia. E, assim, não só ajudar a garantir a oferta diante do crescimento do PIB para os próximos anos, mas fazê-lo de forma a gerar não só eletricidade, mas tecnologia, emprego e renda bem no interior do Brasil. E isso é algo tão valioso e sustentável que nosso país não pode abrir mão!

Boa leitura.

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