Delcy Mack Cruz
Pioneira na fabricação no Brasil do primeiro carro híbrido flex do mundo, o Corolla sedã, em 2019, a Toyota aposta – e muito no etanol.
Primeiro porque o biocombustível é aliado da montadora nas soluções em eletrificação a serem ofertadas nas próximas quatro ou cinco décadas.
Em segundo lugar, porque o etanol, sendo limpo e sustentável, colabora com o Desafio Ambiental 2050, no qual a Toyota compromete-se em atingir a neutralidade de carbono em sua frota comercializada, nas plantas e em todo o ecossistema produtivo.
Nesta entrevista ao JornalCana, a assessoria reuniu executivos e técnicos para avaliar o futuro dos motores a combustão e quando os elétricos devem chegar para valer ao Brasil.
A Toyota celebrou em outubro a comercialização de 25 mil híbridos flex no Brasil. É um fato que merece ser comemorado. Significa, também, que esse tipo de motor terá sobrevida e até crescimento nas próximas décadas no mercado brasileiro?
A Toyota busca tornar a mobilidade no país mais sustentável e inclusiva, e isso passa por uma estratégia que visa soluções práticas e mais eficientes.
LEIA MAIS > Produção deve se recuperar em 2022, mas preço do etanol pode se sustentar
O etanol, combinado ao sistema flex, já é um modelo amplamente bem-sucedido na indústria nacional. Deste modo, trabalhamos para combinar aquilo que a Toyota tem de melhor, que é a versatilidade em trabalhar com modelos híbridos, para fazer nascer o primeiro híbrido flex da história da indústria global.
JornalCana: Por que apostar no etanol?
Toyota: A inovação tecnológica usufrui de matriz energética de grande potencial e escala no Brasil, de fonte 100% limpa, como na produção do etanol da cana-de-açúcar e um sistema que está amplamente difundido no mundo, que são os híbridos da Toyota – há mais de 30 anos líder no desenvolvimento da tecnologia.
Esta combinação se torna muito interessante e sustentável para o futuro de longo prazo da indústria aqui no país. Mas ela será, no horizonte das próximas quatro ou cinco décadas, uma das opções e soluções em eletrificação a ser ofertada.
JornalCana: No material de divulgação sobre a comercialização de 25 mil híbridos, a Toyota relata que, entre seus planos, está o de ter uma versão híbrida para cada modelo vendido na região até 2025. Detalhe, por favor.
LEIA MAIS > Adecoagro recebe autorização para comercializar certificados Gas-REC
Um dos compromissos firmados pela Toyota no seu Desafio Ambiental 2050 é atingir a neutralidade de carbono em sua frota comercializada, nas plantas e em todo o ecossistema produtivo.
A começar por aquilo que oferecemos às sociedades, nossos produtos, que precisam cumprir com etapas rigorosas para uma transformação 100% para tecnologias mais eficientes. Para ganhar escala até 2050, temos que começar já. Em 2025, já entramos na metade do tempo da meta e vamos acelerar, iniciando por um portfólio mais amplo, em termos de eletrificação.
JornalCana: O que impede os veículos 100% elétricos de chegarem de vez ao Brasil? Preços ainda fora da renda média do brasileiro?
Toyota: Custo de desenvolvimento tecnológico (principalmente das baterias), mudança de determinados fatores de produção, rompimento com a atual cadeia de fornecimento, infraestrutura de recarga e oferta de energia para abastecer a demanda.
Mais importante, os veículos movidos a bateria elétrica (BEVs) tem na sua produção atual etapas com maior grau de emissão em relação aos veículos convencionais a combustão.
JornalCana: Explique mais.
Ou seja, resolve-se a questão prática da mobilidade no uso do veículo, mas, na cadeia, aumenta-se o problema das emissões. A Toyota acredita que a total descarbonização na operação do setor e no uso de veículos se dará por meio de um mix de tecnologias adequadas à aplicação ao comportamento do consumidor de cada região e a disponibilidade de energia potencial e ofertada em cada matriz energética. Neste processo, as diferentes tecnologias (HEV, PHEV, BEV e FCEV), já amplamente ofertadas pela Toyota, se destacarão na nova era da mobilidade, estendendo ao consumidor o direito maior de escolha.
JornalCana: Como ficam os híbridos?
Toyota: Os veículos híbridos (combinação de motor elétrico e combustão) mostram vantagem por agrupar a eficiência energética, baixa emissão e viabilidade produtiva. E a vantagem do Brasil é justamente ser um dos maiores produtores de etanol no mundo.
O constante aprimoramento da tecnologia híbrida ao longo das últimas três décadas deu à Toyota vantagem competitiva no desenvolvimento e comercialização.
No Brasil, essa expertise trouxe para o mercado o primeiro carro híbrido flex do mundo, com o Corolla sedã, lançado em 2019 com um produto fabricado aqui.
LEIA MAIS > Envio de informações sobre estoques de combustíveis é tema de audiência pública
JornalCana: Os motores a combustão têm sobrevida até quando no Brasil?
Toyota: É difícil prever, pois tudo depende dos mesmos fatores citados acima (infraestrutura, desenvolvimento tecnológico, transição energética), além de preferências do consumidor sobre o que pode ser mais conveniente em termos de oferta.
Por isso, o país precisa ter uma rota tecnológica definida e uma política clara sobre em qual tecnologia vai aportar, para conceder às empresas o norte ideal para planejamento de longo prazo.
A Toyota tem-se destacado por empregar sistema que une combustão flex e motores elétricos, que são acumulam energia sem a necessidade de uso de fontes externas. Por outro lado, a academia (USP, Unicamp) desenvolve tecnologias que empregam o etanol para gerar hidrogênio no sistema célula combustível. Vocês avaliam adotar tecnologias como essa?
Entendemos que o caminho da eletrificação no Brasil começa pelos híbridos por conta da infraestrutura que está pronta e não querer investimentos, e pelo fato do etanol já ser uma realidade, que gera emprego e renda para o país.
Temos contribuído fortemente para esta popularização com aproximadamente 58% das vendas de veículos eletrificados com os modelos Corolla, Corolla Cross e RAV4, além do portfólio da marca Lexus, 100% HV no Brasil.
LEIA MAIS > Grupo Inpasa completa 4 anos de atuação no Brasil
E num país com forte vocação para biocombustíveis, os veículos híbridos flex são boas opções para incentivar a economia num período de transição para uma futura agenda neutra em carbono.
Importante dizer que, hoje, no mundo a Toyota oferece o maior portfólio de veículos eletrificados.
JornalCana: Como é este portfólio?
Toyota: Ao todo, são 55 opções, confiáveis e acessíveis em todo o mundo, com muitos mais modelos por vir. Nossa oferta global atual oferece 45 modelos elétricos híbridos, 4 modelos elétricos híbridos plug-in, 4 modelos elétricos a bateria e 2 modelos movidos a hidrogênio usando tecnologia de célula de combustível. Atualmente, nosso volume de vendas de veículos eletrificados chega a mais de 2 milhões de veículos por ano mundialmente.
Delcy Mac Cruz
Esta matéria faz parte da edição de dezembro do JornalCana. Para ler, clique AQUI!