Indústrias atrasam entrega de rodotrens desfibradores e de geradores para movimentar usinas. O crescimento acelerado do setor sucroalcooleiro está causando imprevistos que poderão resultar na impossibilidade de moer toda a cana plantada na região Centro-Sul. “É possível que sobre muita cana em pé no final da safra”, prevê o presidente da Udop – Usinas e Destilarias do Oeste Paulista, José Carlos Toledo. Não há ainda dados precisos, mas, segundo o usineiro, é provável que 5% da produção de cana, estimada em 420 milhões de toneladas para a região Centro-Sul, fique no campo.
A própria usina dirigida por Toledo, do Grupo Equipav, convive com este tipo de frustração. A entrega de 32 rodotrens (veículos para o transporte da cana) prometidas pela Randon, prevista para março, só se concretizou no início deste mês. Foram 40 dias de atraso. o que deverá contribuir para um atraso significativo do corte da cana, afirmou. Outras empresas também enfrentam dificuldade com a entrega de equipamentos. Além dos atrasos de entrega, muitas usinas sofrem dificuldades típicas da expansão das atividades. “São as clássicas dores do crescimento afirmou”, declarou o presidente da Udop. Incluem a escassez de pessoal qualificado, os problemas de ajustes dos equipamentos novos e a falta de mão-de-obra e colheitadeiras para o corte da cana. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários (Anfir), os pedidos das usinas sucroalcooleiras aumentaram no primeiro trimestre 90,2% em relação ao mesmo período de 2006.
O desespero de muitos usineiros de imprimir ritmo à moagem da cana, que neste ano deverá ser fortemente alcooleira, uma opção que vem sendo forçada pelas sucessivas quedas do preço do açúcar, ainda não foi considerada pelo mercado. Em apenas um mês e meio, o preço médio do álcool hidratado caiu 22,3% segundo pesquisa semanal feita pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP).
Para o consultor da Safras & Mercado, Gil Barabah, a repentina queda nos preços do álcool hidratado se deve ao início da safra cana e à perspectiva de uma produção pelo menos 13% maior de cana e 25% maior de álcool, já que as usinas deverão destinar até 53% da cana colhida à produção de álcool.
A rápida queda nos preços fez com que o preço ao consumidor paulista representasse o dobro do cobrado nas usinas. O vice-presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis, Alisio Mendes Vaz, atribui essa defasagem à distância percorrida pelo produto entre as usinas e os postos, nas regiões urbanas. O presidente do Sincopetro, que representa os varejistas desse setor, reconhece no entanto, que a velocidade de queda dos preços ao consumidor é sempre muito maior do que no sentido inverso.