Mercado

Plantio direto e preparo reduzido ganham terreno

O método de plantio direto em cana-de-açúcar avança com o chamado preparo reduzido, disponibilizado desde a década passada. Levantamento da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos de Pirassununga – SP – da Universidade de São Paulo – USP, comparou a tecnologia durante cinco anos, em área de fornecedores da Usina São João de Araras, no interior paulista, e constatou ganhos em economia de uso de máquinas e de implementos, maior proteção do impacto da chuva no solo e na redução de custos.

Os dados dos sistemas de preparo indicaram diminuição de custos da ordem de 28,9% entre os preparos convencional e reduzido, e de 46,9% na comparação entre convencional e direto. Em informações atualizadas no último mês de fevereiro, o custo do preparo do solo para cana-de-açúcar por hectare nas mesmas terras, localizadas no município de Aguaí, é de R$ 347,28 no preparo convencional, de R$ 247,09 no preparo reduzido e de R$ 184,32 no preparo direto. “De fato a tecnologia ajuda o empresário da cadeia do setor sucroalcooleiro na busca de economia de custos”, diz Pedro Henrique de Cerqueira Luz, professor da instituição e coordenador da pesquisa, encerrada no final de 2002.

A realidade para o plantio direto, segundo o trabalho, contrasta com a situação vivenciada na década de 1980, quando ele chegou ao mercado, mas, empregado sem critérios técnicos em unidades de manejo de solo argiloso, resultou até em custos maiores, em relação às práticas convencionais, devido às altas dosagens necessárias de agroquímicos. O resultado, na época, foi a retração da técnica – que prometia uma revolução no campo já que dispensa etapas dispendiosas como gradeação do solo, e o deixa apto a receber a planta depois de injeção de agroquímicos.

O engenheiro agrônomo Marcelo Montezuma, da área de desenvolvimento da Monsanto — fabricante de agroquímicos para o plantio direto e preparo reduzido —, reconhece que o direto enfrenta limitações. É o caso de solos onde há presença de insetos de difícil controle, nos quais a alternativa é o preparo por meio de grade. O plantio direto, explica, entra facilmente em áreas sem compactação.

Segundo o trabalho desenvolvido pela USP, são condições favoráveis à utilização do plantio direto os solos arenosos com argila acima de 20%, com gradiente textural – horizonte “Ap” arenoso e “B” argiloso -, rasos com fertilidade superficial, áreas declivosas, pouco estáveis ou com assoreamento, e solos suscetíveis à erosão e com áreas infestadas de ervas daninhas.

Preparo reduzido reúne subsolagem e plantio direto

O preparo reduzido, conforme o estudo da USP, associa as vantagens do plantio direto com a melhoria da porosidade do solo – compactação -, permitida pelo preparo convencional. Com isso foi possível a adequação para as áreas canavieiras com solos argilosos ou planos.

A operação do preparo reduzido consiste em subsolagem com rolo destorroador, dessecação por meio de produto químico, e emprego de sulcação/adubação, que são técnicas do plantio direto.

No projeto da USP, denominado Sistemas de Plantio em Cana-de-Açúcar, foram feitos vários experimentos em condições diversas de solo e clima, como, por exemplo, solos no mesmo microclima, como Podzólico Eutrófico e Latossolo Distrófico. A variedade cana foi a SP 79-1011, com 1,4 metro de espaçamento.

Nos tratamentos houve plantios da leguminosa Crotalária, em 20 de dezembro de 1994, e de cana-de-açúcar, em 15 de março de 1995. Na parcela mecanizada, 15 linhas x 35 metros.

Proteção do solo

No trabalho da USP com plantio direto, empregou-se calagem antes da sulcação sem e com leguminosas, e após a sulcação sem e com leguminosas; enquanto o plantio convencional foi sem e com leguminosas.

A produção foi de quatro cortes. Conforme as conclusões, no quesito produtividade da cana-de-açúcar não houve resposta significativa entre os tratamentos de sistemas de preparo do solo, com desempenho semelhante entre os dois métodos – direto e convencional.

Encontrou-se resposta favorável para a utilização da leguminosa Crotalária juncea nos dois solos estudados, com reflexos nos primeiro e segundo cortes. A aplicação de calcário em superfície no plantio direto teve desempenho semelhante à utilização do calcário incorporado no preparo convencional.

No quesito atributos físicos do solo, constatou-se que os resultados de densidade aparente ou global do solo, que é utilizada como indicador de compactação do solo, não diferiram para os tipos de preparo do solo avaliados. Quanto à infiltração de água no solo, notou-se que a velocidade básica de penetração não se alterou no perfil do solo, porém ela é maior no início da curva de infiltração para a área preparada.

Segundo Luz, todavia deve-se considerar que o solo da área com plantio direto mantém uma cobertura morta superior à do preparo convencional, possibilitando maior proteção do impacto da chuva no solo.

Rotação de cultura com amendoim é eficaz em área pequena

A Usina São João continua empregando plantio direto em rotação de cultura com amendoim, mas em área pequena. Segundo João Martins de Freitas Filho, gerente da Divisão Agrícola, a tecnologia já foi utilizada em áreas maiores com soja, “mas tivemos problemas com o atraso do plantio da soja, que atrasou sua colheita e, conseqüentemente, o plantio da cana, com problemas de falhas no canavial devido à estiagem de abril do ano passado”.

A Usina Santa Cândida Açúcar e Álcool, de Bocaina – SP – realiza plantio direto no cultivo de 800 hectares de amendoim – dos quais 15% da área destinam-se ao plantio de cana – e 1,2 mil hectares de Crotálaria, dos quais 25% reservam-se para cana.

Marcio Scaléa, gerente técnico de Plantio Direto da Monsanto, explica que, na reforma de canaviais, o ideal é cultivar soja, e fazer rotação depois com o milho, para recuperar a fertilidade do solo. O calcário, explica, é empregado para mudar o Ph da terra e permitir que a planta sobreviva e retire o cálcio do solo mas, por ser extrativo, o calcário é limitado.

“Para quem investe no corte mecanizado, os talhões precisam ser redimensionados”, observa. “Nesse caso, retira-se os terraços — reflexo de tratos culturais — para o plantio direto e, com isso, a palha segura a água de chuva, que penetra no solo”.

Serviço

Pedro Henrique de Cerqueira Luz: (19) 3565.4195 ou [email protected]

Marcelo Montezuma: [email protected]

Marcio Scaléa: [email protected]

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