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Plantio da safra de verão avança apesar do clima

As plantadeiras já trabalham em ritmo acelerado no campo semeando a safra 2003/04. Dados os curtos estoques de soja nos Estados Unidos, as atenções estão voltadas para o clima na América do Sul. As chuvas irregulares das últimas semanas no Brasil atrapalharam, em algumas regiões, o planejamento dos agricultores que pretendiam plantar milho safrinha, mas não afetaram a produtividade da soja. Segundo a Safras & Mercado, 19% da área prevista para a oleaginosa havia sido semeada até a sexta-feira, acima dos 13% do mesmo período em 2002 (ano marcado pelo atraso no plantio) e próxima dos 18% da média de cinco anos. A Safras estima a área plantada com soja em 20,479 milhões de hectares. “Se o clima seguir colaborando, a produção será de 59,43 milhões de toneladas”, diz Flávio França Jr, da Safras. A previsão se aproxima das 60 milhões de toneladas do Departamento de Agricultura dos EUA.

Para a Céleres, 18% da área de 20,5 milhões de hectares foi plantada, ante 16% do ano anterior. A consultoria estima produção de 58,1 milhões de toneladas. Segundo Anderson Galvão, da Céleres, o ritmo dos trabalhos está acelerado no Mato Grosso. 57% da área do Estado já foi plantada, acima dos 50% da média de cinco anos. Dono de terras em Sapezal, Inácio Weber já plantou 70% de 11 mil hectares. “Como as chuvas estão boas, já tenho soja florando”. Mas nem todos tiveram sorte com o clima. “Temos uma fazenda onde não choveu nada”, diz Adilton Sachetti, que também planta em Sapezal. Ele pretendia semear 15 mil hectares com soja até 10 de novembro para ter tempo de plantar milho safrinha após a colheita. Com a falta de chuvas, vai plantar 12 mil.

As precipitações têm sido irregulares na Bahia, onde os trabalhos não começaram, mas o atraso é considerado normal. No Sul do país, o clima ajuda. “Eu parei o plantio, para escalonar a colheita”, relata Jaime Neitzke, que plantou 50% de 100 hectares em Campo Mourão (PR).

A ausência dos fenômenos El Niño e La Niña indica padrão normal de chuvas e dificulta previsões meteorológicas. Segundo André Pêssoa, da Agroconsult, “padrão normal” é sinônimo de veranico em regiões como as Missões gaúchas, norte do Paraná e oeste da Bahia. “O problema é que ninguém sabe quando será e quanto tempo irá durar o veranico”, diz. Para ele, o mercado já está pagando um “prêmio” pelo risco climático na América do Sul. Outros fatores como a demanda chinesa e a quebra da safra americana fizeram os preços da soja subir 48,87% desde o fim de julho. Com a alta, a oleaginosa ainda pode tomar espaço do milho no verão, avalia Leonardo Sologuren, da Céleres. “O produtor está guardando fertilizante para a safrinha e plantando soja”. A consultoria estima área de 9,3 milhões de hectares de milho, queda de 3,3%, mas deve reduzir o número.

Outra cultura atrativa é o algodão. Estimulados pela recuperação dos preços no mercado internacional, os produtores, sobretudo os do Mato Grosso e do Oeste da Bahia, começaram a investir nas lavouras.

No oeste baiano, o plantio começou nesta semana, informou João Carlos Jacobsen Rodrigues, vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). A região deve semear 150 mil hectares ante 68 mil hectares ano passado. A expectativa é colher 225 mil toneladas. Segundo Jacobsen, 50% da nova safra já está comprometida.

A euforia da Bahia ainda não contagiou os produtores do Mato Grosso, que investirão novamente na soja. Mas a área deverá ter um incremento de 15% a 20%, chegando a 380 mil hectares, diz Sachetti, que também é diretor da Abrapa. “A colheita de algodão no Estado está estimada em 550 mil toneladas (37% de alta). “Pela primeira vez, iniciaremos o plantio com 60% da produção já comercializada”.