O meio ambiente e a indústria automobilística estão mostrando que casamento por interesses é bom para ambos. O setor automotivo fechou setembro com o mais alto índice de flex fuel já visto – 79,6% dos carros e comerciais leves vendidos no nono mês do ano tinham motores calibrados para queimar gasolina e álcool, tanto faz um como outro combustível. A escolha é do motorista. Põe álcool, põe gasolina… Mas não é apenas isso. Pode utilizar os dois simultaneamente, em qualquer proporção.
Especialistas no setor de comércio de carros afirmam que o advento do flex fuel deixou a indústria automobilística mais aliviada e menos sujeita a crises. Empurradas (além do crédito esticado e menores taxas de juros) pelo bicombustível, as vendas de carros cresceram 10,7% no acumulado do ano.
Vejam só como são as coisas: o carro a álcool puro nunca mais decolou desde seus anos de ouro, entre 1983 e 1988, quando teve em média 90% da preferência do comprador. Depois disso, passou quase 20 anos no limbo – em 1997/1998 foi sua sarjeta, com 0,1% dos negócios. Costumo dizer que o comprador começou a conhecer as qualidades econômicas, técnicas e ambientais do álcool como combustível depois de 2003, quando coadjuvado pela gasolina. Em 2003 os automóveis e comerciais leves com motores flex fuel representaram 3,7% das vendas, no ano seguinte passaram para 21,6%, atingiram 50,2% ano passado e, nos nove meses, até setembro, já significam 76,8%. O placar foi completamente invertido: de 89,2% de domínio em 2003, o veículo a gasolina está hoje com 18,5%.
Afora flex fuel e gasolina, o diesel também está presente na categoria dos comercias leves. Desde 1968, fruto de portaria do antigo Ministério da Indústria e Comércio (MIC), veículo para ser movido a diesel precisa levar no mínimo uma tonelada de carga ou 15 passageiros. A argumentação, por muito tempo, pareceu convincente. O diesel custava na bomba metade do preço da gasolina e, portanto, o subsídio que sempre se apregoou deveria ser compensado para fins nobres: o transporte de pessoas ou mercadorias.
O diesel de algum tempo para cá vem subindo de preço. Hoje o litro vale 80% do preço da gasolina. A explicação para que seu preço tenha subido é aparentemente fácil: enquanto a gasolina tem dois competidores – um forte, o álcool, outro também presente, o GNV -, o diesel é soberano.
Não se imagina, pelo menos por ora, um substituto ao diesel, até porque seu consumo é estratosférico, superior a 40 bilhões de litros por ano. Mas, tal e qual a carreira do álcool, que ganhou consistência e espaço misturado à gasolina, o biodiesel ganha cada vez mais presença como combustível que se deve adicionar ao diesel convencional.
Com os motores calibrados para queimar álcool anidro adicionado à gasolina, gasolina ou álcool hidratado, seja como for, biodiesel acrescido ao diesel, o Brasil apresenta um coquetel de combustíveis que permite ao País mover o campo, melhorar o ar das cidades e garantir aquecidas as vendas da indústria automobilística.