Um balanço da ação diplomática brasileira, em três anos e oito meses de administração Lula, com ênfase no discurso ufanista do chamado diálogo Sul-Sul, eufemismo usado para escamotear o estéril confronto Norte-Sul, ou seja, desenvolvidos versus emergentes, mostra resultados simplesmente desastrosos.
Excetuando-se as vitórias obtidas, no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), contra subsídios dados aos produtores americanos de algodão e europeus de açúcar de beterraba, pouco há para ser comemorado.Até mesmo a criação do Grupo dos 20 (G-20), lance estratégico mais ousado do Itamaraty, acabou por abafar totalmente a presença brasileira nos organismos multilaterais de negociação. Uma típica vitória de Pirro!
De fato, após a formação do G-20, nossa diplomacia conseguiu apenas e tão somente dar maior visibilidade à avassaladora concorrência da economia chinesa, à discreta competência tecnológica da Índia, e à luta da África do Sul para consolidar-se como a mais importante nação emergente do continente africano.
E para nós, brasileiros, sobrou o quê? Talvez “o bagaço da laranja”, como sugere composição popular, de muito sucesso, na voz do saudoso Bezerra da Silva.
Com efeito, que outro nome dar, a não ser bagaço da laranja, a atitudes como, por exemplo, dentre outras, enviar tropas ao Haiti, cujo custo anual é de quase R$ 200 milhões, quando o PCC e o crime organizado desafiam abertamente governo e instituições?
Além disso, as freqüentes bazófias de Evo Morales contra empresas brasileiras, e manobras protecionistas de Néstor Kirchner, dentre outras, têm criado situações constrangedoras para o Itamaraty.
O governo ignora tais atitudes, comportando-se, quando muito, como um pai em relação a um filho mal criado, como se nelas não estivessem envolvidos interesses legítimos e legais de corporações nacionais.
Nossa outrora respeitada diplomacia não foi capaz sequer de prever a iminência da sucessão de Fidel Castro, tema que, hoje, polariza interesses em todo o hemisfério americano.
De acordo com o deputado Fernando Gabeira, o Planalto imaginou que “El Comandante” fosse imortal. O resultado é que, segundo ele, nem Lula nem o Itamaraty sabem ao certo como Cuba vai ser governada após a Era Fidel.
Se conhecesse os representantes do Conselho da Revolução que, juntamente com Raul Castro, irmão mais novo de Fidel, governam interinamente a nação caribenha, o Brasil poderia desempenhar o papel de interlocutor privilegiado do governo americano.
Mas, ao que parece, em Brasília a doença de Fidel, às vésperas de completar 80 anos, pegou a todos de surpresa! Cuba já teve, no passado, durante a crise dos mísseis, em 1962, e voltará a ter, no futuro, papel emblemático nas relações entre Estados Unidos e América Latina.
Por isso, o governo americano precisa de interlocutores com quem checar suas informações, desatualizadas e, às vezes, distorcidas, em razão dos quase cinqüenta anos de bloqueio comercial, sobre a real situação política na Ilha.
A pergunta é: quais são os países latino-americanos que dispõem de dados confiáveis sobre a sucessão de Fidel? México, Nicarágua, Colômbia, Chile e Argentina. Talvez até a Venezuela, de Hugo Chavez.
E o Brasil? Bem, talvez, em breve, envie um observador a Havana.