O presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, garante que, em menos de quatro anos (até 2010), a sobra de petróleo extraído dos campos brasileiros destinada a exportação atingirá 550 mil barris diários, equivalente a cerca de 30% do consumo interno de hoje.
Dentro de algumas semanas, a Petrobrás vai comemorar a obtenção da auto-suficiência na produção de petróleo. Este é um sonho acalentado desde os anos 30 e mais fortemente defendido nos anos 50, durante a campanha nacionalista chamada “O petróleo é nosso”. A auto-suficiência deverá ser atingida quando a plataforma P-50 (Albacora-Leste), agora em testes, entrar em operação e produzir mais 180 mil barris diários. No ano passado, duas novas plataformas, a P-43 (Barracuda) e a P-48 (Caratinga) acrescentaram à produção 300 mil barris diários.
A preços de hoje, em torno de US$ 60 por barril de 159 litros, a exportação de 550 mil barris diários proporcionaria em 2010 uma receita de aproximadamente US$ 11 bilhões por ano. A esse total ainda teriam de ser acrescentadas as receitas com exportações de derivados, especialmente sobras de gasolina. Apenas para comparar, no ano passado, o Brasil exportou US$ 7,1 bilhões de óleo cru e derivados.
Números mais precisos sobre exportações futuras dependem da evolução do consumo interno e das cotações que o petróleo pesado, principal característica do produto nacional, alcançará no mercado internacional. Gabrielli admite que melhor do que exportar petróleo cru seria exportar derivados, porque apresentariam valor adicionado. Mas isso só se tornará possível depois que aumentar a capacidade de refino da Petrobrás.
Os empresários da área industrial, especialmente exportadores, tremem a cada notícia dessas. Entendem que a exportação de produtos primários já vem sendo responsável pela queda do dólar no câmbio interno, à medida que aumenta a demanda de matérias-primas pelos países industrializados da Ásia, como China e Índia. Só as exportações de minério de ferro em 2005 concorreram com receitas de US$ 7,3 bilhões. (As exportações totais do Brasil em 2005 atingiram US$ 118,3 bilhões e as deste ano podem alcançar US$ 140 bilhões.) Os industriais tendem a ver na auto-suficiência de petróleo mais um fator que tirará competitividade do produto manufaturado brasileiro.
A bem da verdade, a queixa não é só da indústria. Também os empresários do agronegócio reclamam de que a forte exportação de minérios lhes está tirando renda, porque despeja moeda estrangeira no câmbio e achatam as cotações do dólar.
Mas, afinal, por que exportar petróleo, produto cada vez mais escasso, em vez de deixá-lo debaixo da terra para consumo futuro no Brasil? Gabrielli argumenta que a capacidade de produção cresce aos saltos, à medida que as plataformas entram em operação. “São unidades de altíssimo custo de capital que não podem dar-se ao luxo de se manterem parcialmente ociosas. Elas têm de trabalhar à capacidade máxima. Isso, por sua vez, gera sobras, que não podem ser estocadas, também em conseqüência do alto custo.”
A auto-suficiência em petróleo não vai gerar pressões só dos empresários. Produtores, consumidores e políticos já vêm pedindo redução dos preços internos dos combustíveis. Não entendem como o petróleo nacional, produzido basicamente com custos contabilizados em reais, deva ser vendido internamente a preços internacionais.
Infelizmente, esta é a lógica que prevalece para os produtos obtidos ou fabricados no Brasil que são cotados em dólares, como soja, café, cacau, açúcar e todas as commodities metálicas. Se os preços internacionais não prevalecerem internamente, o produtor preferirá exportar a abastecer o mercado interno.