Geólogos de todo o mundo estiveram reunidos, no mês de junho deste ano, na Universidade da UPSALA, na Suécia, com a finalidade do exame das reservas mundiais do petróleo.
As conclusões alcançadas foram que os estoques de petróleo atingirão o seu nível máximo nos próximos dez anos e, em seguida, começarão a declinar. Das reservas existentes no planeta, cerca de 80% já foram descobertas. A parcela restante encontra-se em campos menores, águas profundas marítimas e de complexa operação. Os EUA têm reservas de 21 bilhões de barris para o consumo diário de 16 milhões. Sem severas reduções no consumo ou aumento pouco provável das reservas, elas darão para cinco anos. Efetuada a previsão, haverá um declínio da oferta do combustível fóssil, com a gradativa elevação dos preços e turbulência econômica.
Daí, a preocupação dos representantes dos países dependentes do petróleo e derivados, no sentido da diminuição do uso e persuadir os dirigentes das nações à racionalização do consumo e à substituição pelas energias limpas e renováveis.
Países do primeiro mundo, maiores consumidores do petróleo e de energia em todo o universo, poderão ser afetados nos seus usos, costumes e estilo de vida.
Hoje, pouco mais de 60% do transporte mundial é feito queimando-se petróleo.
Na década de 70, metade da produção mundial (30 milhões de barris/diários: 40% da produção mundial e 60% das exportações) encontrava-se nas mãos dos 11 países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo – OPEP, dominada pelas nações árabes e islâmicas. A entidade continua produzindo a mesma quantidade, no início deste novo século. Contudo, os não integrantes da OPEP já extraem 47 milhões de barris/diários, possuindo condições de aumentar este volume. A Rússia substituiu a Arábia Saudita, como a maior exportadora mundial.
O preço do óleo cru, não obstante, continua alto, obstaculando o desenvolvimento da economia mundial. No último triênio e meio, os preços do barril apresentaram variações substanciais (no fim de 98: 10 dólares e em meados de 2000: 38 dólares/barril), fazendo com que a gasolina americana subisse 25%, nos últimos dois meses. Os especialistas advertem que o preço possa estabilizar-se em torno de US$ 25/barril, durante o ano em curso, desde que a crise do Oriente Médio continue administrada e sem um eventual ataque americano ao Iraque.
No tocante ao Brasil, quais as repercussões na nossa economia do petróleo sendo importado a US$ 25/barril? A estrutura do preço do petróleo e seus derivados continua encerrada numa verdadeira caixa preta e sem transparência. Os reajustes processados pela Petrobrás levam em conta o preço da gasolina na região do Golfo americano, ignorando o custo da matéria prima nacional (1,5 milhão de barris/diários) e importada (400 mil/diários).
Em tese, o mercado dos combustíveis líquidos ou gasosos é livre no Brasil. Qualquer empresa poderá refinar o petróleo ou importá-lo, inclusive os sub-produtos. Na prática, contudo, isto não ocorre: a Petrobrás possui o monopólio do refino (98%); é proprietária dos dutos e dos terminais marítimos.
Ademais, a estatal pode vender os derivados, a preços inferiores ao do mercado mundial. No próximo ano, haverá a necessidade da construção de novas refinarias; ampliação da capacidade existente (1,8 mil barris diários) ou aumento das importações (500 mil barris diários).
Até agora, as agências reguladoras não conseguiram coibir as práticas da Petrobrás, a fim de reduzir os valores cobrados pelos combustíveis. Já tivemos quatro reajustes de gasolina e cinco do diesel neste ano, totalizando um aumento de 30% desde janeiro. Daí, a estatal apresentar excepcional rentabilidade, sem o propósito de reduzir os preços, o que somente seria exeqüível num regime de competição com a iniciativa privada, o que é inviável na atual conjuntura política e econômica do País.
Uma das raízes do nosso crônico endividamento foi a imprevidência energética na área do petróleo, eis que até a segunda crise do petróleo não houve, praticamente, investimentos em pesquisa e exploração, senão ¼ dos recursos disponíveis. As importações do petróleo justificariam a expressiva parcela de nossa dívida (petrodívida).
Luiz Gonzaga Bertelli é diretor da FIESP/CIESP e da Associação Comercial de SP — ACSP
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