Há quem prenuncie que poderá alcançar US$ 100. Ademais, nunca o mundo consumiu tanto petróleo, com uma demanda de 85 milhões de barris, equivalente à oferta total.
A única hipótese de uma possível e remota queda do preço decorre da desaceleração do crescimento econômico das nações, o que não está sendo admitida pela maioria dos povos.
A instabilidade de preços do petróleo, portanto, deve permanecer, mesmo que os ataques israelenses ao Líbano cessem, estamos às vésperas do fim do verão e o aumento do consumo de gasolina pressionará a majoração dos preços. Das reservas atuais 65% estão no Oriente Médio.
Entre nós, a Petrobrás, em face da política adotada, não tem repassado ao consumidor brasileiro o aumento do preço do petróleo, o que poderá suceder tão-só após as eleições. Para o principal diretor da estatal, não há necessidade de fazê-lo ainda, em face de flexibilidade de alternativa de combustíveis (álcool x gasolina).
Após a eleição do presidente Lula, em 2002, a Petrobrás aumentou o preço da gasolina em 12%, o diesel em 21% e o gás de botijão em 23%. À época, quando indagado sobre possíveis aumentos, o porta-voz da petroleira afirmara, reiteradamente, que os derivados do petróleo somente teriam os seus preços alterados quando fosse conveniente e indispensável. Pois bem, isso aconteceu após o último pleito presidencial.
O Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) declara que a defasagem no preço da gasolina no Brasil já estaria em torno de 15%, apesar da aludida valorização do petróleo no mercado internacional. Desde novembro de 2005, não há aumento da gasolina e o gás de cozinha (GLP) não sobe desde o início da administração Lula, em 2003. Aumento da gasolina é anunciado no Jornal Nacional e publicado na 1ª página do jornal, afetando a imagem do governo, afirmam os analistas.
O Credit Suisse considera provável que não haja aumento da gasolina este ano.
Em recente relatório, a Agência Internacional de Energia (AIE) vaticina que a produção de petróleo do Brasil saltará de 1,8 milhão de barris/diários para 2,4 milhões de barris, até o ano de 2010. Quanto ao consumo, deverá crescer em torno de 3% anuais, no mesmo período. Apesar da decantada notícia da auto-suficiência na extração, decorrente das perfurações no mar, o Brasil está, ainda, deficitário na balança comercial do petróleo em mais de 200 mil barris diários e poderia alcançar 500 mil barris, se não houvesse a produção, a cada dia, de 300 mil barris de álcool de cana-de-açúcar. No final do século, precisava importar quase a metade do que consumia.
De janeiro a maio de 2006, o déficit foi de US$ 2,1 bilhões, incluindo o gás da Bolívia, o GLP (de botijão), a nafta petroquímica, o diesel e mesmo o óleo bruto.
Nos últimos cinco meses, as nossas exportações de petróleo e derivados somaram US$ 3,7 bilhões e as importações, US$ 5,8 bilhões. Enquanto isso, o valor médio do álcool é de R$ 1,30/litro, quando a venda dos carros flex (álcool x gasolina) está prestes a superar a marca de 1,7 milhão de veículos, o que contribui para manter a demanda aquecida.
Se não fossem os mencionados veículos flex e o álcool misturado à gasolina, estaríamos emitindo mais de 15 milhões de toneladas de CO por ano, tornando o2ar da capital paulista irrespirável, aposta o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
A grande nação americana é a maior consumidora de petróleo do globo. Até o final do século 19, os EUA dominaram praticamente sozinhos o comércio mundial de petróleo, em grande parte à atuação do empresário John D.
Rockefeller. Tradicionalmente, quando os valores do combustível fóssil crescem, eles ocasionam a elevação dos juros. Não há indícios, por enquanto, de que a valorização do petróleo no mercado internacional redunde no aumento da inflação brasileira ou na taxa de juros básica (Selic), que se encontra, atualmente, em 15%, a mesma dos idos de 2001. O maior receio dos geopolíticos é que o conflito no Oriente Médio persista com sensíveis reflexos na oferta do petróleo no mundo, já que as nações desenvolvidas não prescindem da produção dessas regiões para suprir os seus vorazes mercados. Fonte de energia, por excelência, mas também matéria-prima para o fabrico de plásticos, tintas, tecidos sintéticos e detergentes, o petróleo continua sendo, hoje, o mais importante e cobiçado produto de todo o mercado internacional.?
*Luiz Gonzaga Bertelli, diretor da Divisão de Energia da Fiesp é presidente-executivo do CIEE e da Academia Paulista de História (APH)