A Petrobrás fechou ontem um contrato de US$ 200 milhões para a construção de uma usina de álcool na Nigéria com o objetivo de suprir o mercado local com etanol. O acordo foi fechado com a Nigéria National Petroleum Corporation. O governo brasileiro ainda convenceu o governo do presidente Umaru YarAdua, que tomou posse ontem, a incluir em seu plano de desenvolvimento do delta do Rio Niger a produção de cana-de-açúcar como forma de elevar a renda da população local.
Brasil e Nigéria vêm incrementando o comércio bilateral nos últimos anos. Existe uma percepção cada vez maior nos dois governos de que há espaço para um aumento do fluxo com base em entendimentos sobre energia. O acordo da Petrobrás é mais um passo na aproximação entre os dois países, afirmou o embaixador brasileiro em Abuja, Pedro Luiz Rodrigues.
O acordo da Petrobrás, que vinha sendo negociado desde fevereiro, foi praticamente o último ato do ex-presidente Olusegun Obasanjo antes de passar o cargo a YarAdua. Os nigerianos pagarão inicialmente por 70% do projeto, mas a empresa brasileira não descarta que outros passos sejam tomados nos próximos meses para reforçar a produção de etanol na Nigéria. Além disso, a Petrobrás exportará por 12 meses o produto ao mercado nigeriano enquanto a usina não estiver em pleno funcionamento.
Esse é apenas o primeiro passo, afirmou o diretor de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp) Roberto Giannetti da Fonseca, que participou das negociações. A aposta do Brasil ocorre diante da decisão da Nigéria de incluir 10% de etanol em sua gasolina. Apesar de ser o sexto maior produtor de petróleo do mundo, a Nigéria é obrigada a importar gasolina porque não há refinaria no país.
O Brasil quer usar o etanol como forma de garantir maior renda para a população de uma das regiões mais violentas da África: o delta do Rio Niger. Em um ano, 150 estrangeiros foram seqüestrados por milícias que acusam as empresas de pactuar com o governo e impedir o desenvolvimento da região.
Para as milícias, as empresas são sinônimo de pobreza. Isso porque os recursos não são compartilhados com a população e a poluição gerada pela exploração impede atividades como a pesca. Sem investimento do governo, a população não tem acesso à eletricidade ou ao querosene, mesmo vivendo sobre uma das maiores reservas de petróleo e gás do planeta.