Os serviços essenciais prestados pela prefeitura de Salvador pararam ontem, após a decisão da Petrobras de suspender o fornecimento de combustíveis, pouco mais de 10 horas depois de seu representante José Carlos Domingues de Souza, sob a chancela do gerente regional Carlos Duelf, ter assinado um acordo com o secretário municipal da Fazenda, Reub Celestino, que assegurava a manutenção do abastecimento. O acordo para o parcelamento de uma dívida de R$ 2 milhões, que seria paga entre janeiro e fevereiro de 2006, foi firmado anteontem pela manhã e desfeito pela estatal no mesmo dia à noite. A justificativa foi a de que a direção nacional da empresa não o ratificou. Com isso, instalou-se o pânico no Palácio Thomé de Souza. O prefeito João Henrique não escondia a sua irritação e profunda indignação com o gesto da estatal, que agiu sem levar em conta a necessidade de manter em pleno funcionamento serviços como o Samu, que lida com vidas humanas, a coleta de lixo, as ações da vigilância sanitária e da SET, a distribuição da merenda escolar, operação tapa-buracos dentre outras. No total, a prefeitura conta com 300 carros que são abastecidos quase que diariamente.
O consumo diário é de oito mil litros de combustíveis. O fornecimento, na verdade, foi cortado desde a última sexta-feira. Coube ao secretário municipal de Administração, Luiz Café, racionalizar o uso da gasolina e do diesel de lá para cá, mas o contrato assinado anteontem normalizaria a situação. Secretários municipais e o próprio prefeito mantiveram contatos com dirigentes da Petrobras, sem sucesso. Recorreu-se até ao ministro Jaques Wagner (Relações Institucionais), responsável pelo indicação do atual presidente da petrolífera, o também baiano José Sérgio Gabrielli. Tudo inútil. Wagner teria dito que a Petrobras é autônoma e, por isso, não teria como intervir, mesmo sendo aliado político de João Henrique. “ Imaginem se fosse um inimigo”, bradou um dos secretários durante conturbada tarde no gabinete do prefeito, querendo se referir também ao PT, partido da base aliada da administração de Salvador. “A intransigência, a prepotência de uma empresa brasileira que tem tantos negócios no Estado e em Salvador, e tem como dirigente máximo, um baiano é no mínimo lamentável.
O Governo Federal mostra com isso que o interesse coletivo ou os problemas da comunidade são menores do que os números que poderiam muito bem ter sido negociados. Onde está a responsabilidade social desta empresa, quando estamos tratando de ambulâncias que podem salvar vidas?”, indagou João Henrique.