Mercado

Petrobras produzirá 2 milhões de barris/dia até o fim do ano

O total de 1,51 milhão de 2004 deverá ter acréscimo de 580 mil barris. A concentração de projetos da Petrobras adiados para este ano levará o País a um salto de 580 mil barris de petróleo por dia na capacidade de produção.

Trata-se de mais de um terço de toda a produção petrolífera atual, que encerrou o ano passado com média de 1,51 milhão de barris diários. Com esta previsão, a estatal reafirma a intenção de alcançar a auto-suficiência em petróleo até dezembro, embora admita que se trata de uma meta “desafiadora”.

Tudo dependerá do comportamento do consumo de combustíveis. Somente um aumento superior a 10% na demanda neste ano impedirá a estatal de realizar o sonho da auto-suficiência. As vendas de derivados no Brasil totalizaram 1,589 milhão de barris diários em 2004.

A meta da estatal é produzir 1,850 milhão de barris diários. O crescimento da demanda em 2004 não passou de 5%, desempenho atípico para um mercado que vinha encolhendo desde 2000. Sem falar no crescimento do gás natural, que vem tomando mercado de gasolina e diesel e alcançou em 2004 a marca de 19%.

De acordo com o diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrella, 2005 é o ano de estréia de quatro plataformas, entre elas a P-48 – que começou a funcionar ontem no campo de Caratinga, na bacia de Campos. Assim como esta unidade, a P-43, em atividade há cerca de um mês, terá capacidade para extrair 150 mil barris diários em meados deste ano. Também em 2005 começa a funcionar a P-50 com processamento de 180 mil barris.

Estrella também citou o início das atividades da P-34 com 60 mil barris, e a normalização das operações do campo Marlim Sul, também em Campos. Em junho de 2004 foi interrompida a produção de algumas áreas desse campo porque houve afloramento de petróleo no fundo do mar.

A solução está sendo perfurar novos poços em Marlim Sul para compensar o estancamento nas regiões problemáticas. “Deslocamos a produção para lugares onde não tem afloramento”, afirma. Os atrasos da entrada de algumas plataformas em 2004 foram responsáveis, em parte, pela estagnação do lucro da empresa no ano em que os preços do petróleo no mercado internacional dispararam.

Defasagem aumenta

A defasagem entre o preço do petróleo vendido pela Petrobras e o valor do brent quase triplicou no ano passado. Enquanto o barril do petróleo nacional custou em média US$ 33,49, o brent registrou US$ 38,24 – uma diferença de US$ 4,85.

Em 2003, a desvantagem do óleo brasileiro era de apenas US$ 1,7 frente ao brent, com valores de US$ 27,9 e US$ 28,8 respectivamente. O diretor financeiro da estatal, José Sergio Gabrielli, afirma que o tipo de óleo produzido pela Petrobras, mais pesado, está se desvalorizando no mercado internacional em razão do aumento da oferta já que as mais recentes descobertas no mundo tem sido de petróleo pesado.

Outra defasagem, de preços internos e externos dos derivados, é apontada por analistas como a principal explicação para a estagnação do lucro da estatal em 2004. “A receita não cresceu o suficiente para acompanhar os gastos com exportação”, afirma Mônica Araújo, do banco Espírito Santo (BES). Os ganhos da Petrobras com abastecimento de derivados foram reduzidos à metade no ano passado. O lucro operacional da área encolheu R$ 4,4 bilhões, de R$ 8 bilhões em 2003 para R$ 3,6 bilhões em 2004. De acordo com o diretor financeiro da estatal, José Sergio Gabrielli, o resultado reflete “o efeito negativo das margens que não foi compensado pelo aumento do volume de vendas do ano”.

A frase confirma o que analistas esperavam: lucro afetado pela defasagem entre preços internos e externos. Enquanto os combustíveis dispararam no mercado internacional, a Petrobras manteve preços e reajustou seus principais produtos – o diesel e a gasolina – três vezes. “Vamos continuar aguardando a tendência de preços se confirmar para tomar alguma posição”, avisa Gabrielli.

O diretor da Petrobras se debruçou no dólar desvalorizado e no aumento dos juros americanos para justificar por que o lucro líquido não cresceu. Segundo Gabrielli, a estatal perdeu receitas no exterior e teve reduzidos ganhos com aplicações em fundos cambiais por causa do dólar mais barato. Já o aumento dos juros americanos levou a Petrobras a gastar mais com o pagamento de dívidas estrangeiras, apesar de o endividamento da estatal ter sido menor em 2004.