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Petrobras pretende converter usinas em bicombustíveis

Estatal vai pagar para que cinco térmicas funcionem com gás ou diesel. A Petrobras quer pagar para que cinco usinas térmicas movidas a gás natural sejam convertidas e passem a funcionar também movidas a óleo diesel. Segundo o diretor de gás e energia da Petrobras, Ildo Sauer, a proposta de conversão das térmicas está sendo negociada entre a estatal petrolífera e as usinas Termopernambuco, Termoceará, Termofortaleza, Termobahia e Termorio. A estatal tem participação nas duas últimas.

A conversão seria uma forma de evitar problemas como o ocorrido no final do ano passado e início de janeiro de 2004, quando os reservatórios das hidrelétricas que abastecem o Nordeste ficaram abaixo do nível mínimo de segurança e as usinas do Programa Prioritário de Termeletricidade (PPT), movidas a gás natural, não puderam ser acionadas por falta de combustível. Como a Petrobras não tem condições de fornecer gás para as térmicas por falta de gasodutos, as térmicas emergenciais da região tiveram de ser acionadas para garantir o abastecimento de energia.

Segundo Sauer, até 2007 deve estar concluída a rede básica de gasodutos que vai ligar as regiões Sudeste e Nordeste, passando pelo litoral. Ele afirma que ainda não há previsão do orçamento necessário para fazer a conversão das térmicas para o funcionamento a gás ou diesel. Apenas como exemplo, a Chesf está fazendo a conversão da usina térmica de Camaçari (BA), de 350 MW, para o funcionamento a gás e a diesel, e estima gastos em torno de R$ 100 milhões. A previsão da empresa é que a térmica de Camaçari comece a funcionar no sistema bicombustível até o início do próximo ano. A usina foi construída inicialmente com turbinas movidas a óleo, mas passou por uma conversão para funcionar somente com gás.

Sauer afirma que o objetivo de implantar o sistema bicombustível nas cinco térmicas é garantir o funcionamento das usinas mesmo com a falta de gás natural. “Em caso de falta de gás, a Petrobras vai fornecer o óleo diesel pelo mesmo preço”, afirma. Segundo ele, o preço atual do gás natural está em US$ 2,70 por milhão de BTU e o do diesel equivale a cerca de quatro vezes este valor por uma quantidade equivalente. De acordo com Sauer, o tempo previsto para a conversão das usinas termelétricas é de três a seis meses. Sauer esteve ontem em São Paulo para a abertura do 5 Encontro Brasileiro de Profissionais do Mercado de Gás, onde recebeu o prêmio de profissional do ano do setor.

A proposta de converter térmicas movidas a gás natural para o sistema bicombustível foi discutida pela ministra Dilma Rousseff durante a crise de abastecimento que atingiu o Nordeste entre dezembro de 2003 e janeiro de 2004. Na época, a ministra fez reuniões periódicas com representantes da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), da Petrobras e da Chesf para discutir o assunto e tentar achar soluções.

Quando o Programa Prioritário de Termeletricidade foi lançado, em 2001, a Petrobras tinha uma participação média de 16% nos 32 projetos, o que representou investimentos da ordem de US$ 256 milhões pela estatal. Outra estatal, a Eletrobrás, tinha 9% de participação, o que representou investimentos de US$ 145 milhões.

Malha de gasodutos

Ildo Sauer disse ontem que a expansão de gasodutos prevista pela Petrobras tem custo estimado em US$ 3 bilhões e deve estar concluída até 2010. Além da ligação entre o Sudeste e o Nordeste, a estatal prevê também trechos entre o Rio de Janeiro e Campinas (SP), entre Manaus e Urucu (AM), no Nordeste (Catu/Pilar/Mossoró) e também nas regiões Sul e Centro-Oeste. A rede atual de gasodutos da Petrobras é de 5,6 mil quilômetros e a expansão prevê mais 4,7 mil quilômetros. O diretor reafirmou que a Petrobras poderá construir uma usina termelétrica em Manaus, caso haja interesse do Ministério de Minas e Energia. Segundo ele, a térmica teria potência instalada de 720 MW e é uma das possibilidades que o MME tem para atender o abastecimento de eletricidade de Manaus, que não faz parte do sistema integrado de transmissão de energia do País.

A distribuidora estatal Manaus Energia, que atende a capital do Amazonas, abriu uma licitação para aquisição de 750 MW médios por parte de produtores independentes, mas o processo foi suspenso pela Justiça com base em denúncias de não cumprimento de critérios ambientais por parte dos concorrentes. Segundo Sauer, quem vai decidir sobre a construção da térmica em Manaus ou a compra de energia por produtores independentes é o ministério.