No dia em que o barril do petróleo bateu mais um recorde em Nova York, o diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto da Costa, garantiu ontem que a empresa ainda não fixou data nem índice para o reajuste dos preços dos combustíveis. Ele também negou que a demora tenha relação com as eleições municipais.
“Não concordamos com a acusação. Essa é uma decisão que compete à diretoria da Petrobrás”, rebateu, após participar de audiência pública promovida pela Comissão de Desenvolvimento Econômico da Câmara para debater a evolução dos preços dos produtos derivados do petróleo.
Costa argumenta que os preços do petróleo estão mudando diariamente e não permitem, ainda, saber qual será o novo nível para que seja calculado o reajuste. “Hoje não se sabe se esse patamar é de US$ 52 o barril ou de US$ 45”, argumentou. Há dez dias, lembrou, o preço do petróleo tipo Brent estava abaixo de US$ 40 o barril, após um período de alta. Mas voltou a US$ 48. “Os estudos estão sendo atualizados diariamente”, informou.
O executivo admitiu que não há perspectiva de redução rápida dos preços a um nível inferior ao de antes da crise, que era entre US$ 22 e US$ 28. Sua estimativa é de que o preço oscilará entre US$ 40 e US$ 50. Segundo Costa, a estatal venezuelana PDVSA prevê que só haverá redução de preços no segundo trimestre de 2005.
Diante desse quadro, segundo o diretor, a Petrobrás prefere trabalhar com uma visão de longo prazo e não quer transferir para o consumidor a volatilidade externa. Ele negou que essa prática de retardar os ajustes seja um desestímulo para os eventuais interessados em entrar no mercado brasileiro de refino.
Pequenas refinarias estão reduzindo a produção por não conseguir competir com os preços artificialmente baixos da estatal. Mas ele não vê problema nisso. “A política é de cada empresa”, argumentou, dizendo que a visão de longo prazo da Petrobrás também é um fator favorável à atração de parceiros.
A eventual nova refinaria, que poderá ser construída a partir de 2007, terá parceria privada, segundo Costa.
O discurso de Costa estava afinado com o do diretor de Exploração e Produção da estatal, Guilherme Estrella. Participando ontem da feira Rio Oil & Gas, no Rio de Janeiro, Estrella admitiu que a decisão de reajustar os preços dos seus principais derivados – diesel e gasolina – leva em conta o cenário macroeconômico. “Temos de agir com tranqüilidade porque sabemos que qualquer movimento da companhia impacta na economia nacional.”
Estrella voltou a dizer que a estatal ainda aguarda uma “melhor definição” sobre quais seriam os valores reais do petróleo. Segundo ele, há ainda muita especulação no mercado que influencia diretamente os preços e impede que o valor real se sobressaia. O executivo comentou também que a Petrobrás não definiu qualquer política para repassar o novo nível para seus principais derivados, a gasolina e o diesel. “A Petrobrás tem de ser uma empresa responsável e não pode passar a volatilidade do mercado internacional para seus preços.” (Colaboraram Kelly Lima e N.P.)