A Petrobras e a Petróleos Mexicanos (Pemex) negociam um amplo acordo de cooperação nas áreas de biocombustíveis, refino, petroquímica e gestão. Os entendimentos estão em fase adiantada e vão permitir ampliar a parceria entre as estatais, que têm, desde 2005, um convênio de cooperação tecnológica na área de exploração e produção.
O presidente do México, Felipe Calderón, manifestou ontem o desejo de que Petrobras e Pemex ampliem a curto prazo os entendimentos. ” Meu interesse é de que possamos acertar logo um novo convênio de cooperação, uma aliança entre Petrobras e Pemex, mas, sobretudo, uma aliança entre Brasil e México para ampliar as capacidades produtivas de ambos países “, disse Calderón na visita que fez ao Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Petrobras (Cenpes), no Rio.
No local, ele assistiu a uma apresentação sobre a Petrobra! s e o pré-sal feita pelo presidente da empresa, José Sérgio Gabrielli. Ele disse a Calderón que só no pré-sal serão investidos US$ 28,9 bilhões, recursos que devem garantir a produção de 219 mil barris/dia em 2013. Até 2020 a produção do pré-sal deverá atingir 1,8 milhão de barris/dia, previu Gabrielli. “Será um incremento de produção nos próximos 12 anos equivalente à dos primeiros 54 anos da Petrobras ” , comparou.
Calderón e sua comitiva, incluindo a secretária (ministra) de Energia, Georgina Kessel, também assistiram a um filme em 3-D sobre o pré-sal. No fim, Calderón disse que é de interesse do governo mexicano fortalecer os mecanismos de cooperação científica, tecnológica, acadêmica e operacional entre Petrobras e Pemex. Ele disse que se a Pemex puder aproveitar a experiência da Petrobras, incluindo a tecnologia empregada pela brasileira para aumentar a produção, a Pemex poderá novamente expandir sua fronteira produtiva. A empresa mantém o monopólio da atividade petr! olífera no país.
Calderón comparou a evolução da produção de petróleo nos dois países. Disse que há dez anos a produção mexicana situava-se acima dos 2 milhões de barris/dia enquanto o Brasil produzia 800 mil barris diários. ” No entanto, este ano a Petrobras terá uma produção muito semelhante à do México, na faixa dos 2,5 milhões de barris/dia (considerando-se a produção da Petrobras no Brasil e no exterior). Assim, a Petrobras quase triplicou sua produção enquanto no México houve uma redução da ordem dos 600 mil barris (diários) nos últimos seis anos ” , disse.
Ele chamou a atenção para o efeito dessa redução sobre as finanças públicas, já que no México o petróleo representa cerca de 40% da receita do Estado (nos âmbitos federal, estadual e municipal). A redução foi determinada pela queda de produção no campo gigante de Cantarell, descoberto acidentalmente pelo pescador de igual sobrenome em 1972.
Em 2004, o México alcançou o seu recorde de produção de petróleo com uma média de 3,38 milhões de barris/dia, dos quais 63,2% correspondiam à produção de Cantarell, situado no Golfo do México, a 70 quilômetros da costa. A partir daí, começou um processo natural de declínio da produção desse campo. Um dos grandes desafios para o México agora é substituir a produção de Cantarell.
No fim de 2008, o governo publicou sete decretos que buscam fortalecer a Pemex por meio de uma reforma energética. A reforma inclui temas relacionados às áreas de refino e distribuição, mas também prevê mudanças de gestão corporativa, orçamento, financiamento e regime de contratação, entre outros pontos.
Milton Costa Filho, gerente-geral da Petrobras México, disse que existem grandes oportunidades naquele país. Segundo ele, o México importa 350 mil barris/dia de gasolina. Os mexicanos também importam produtos petroquímicos. Segundo Costa, o chamado downstream (refino e distribuição) do gás natural é aberto a empresas privadas no México, assim como o setor de biocombustíveis. Ele disse que existe potencial para empresas brasileiras construírem destilarias de álcool de cana-de-açúcar no México. Um projeto-piloto na cidade de Guadalajara prevê a adição de álcool à gasolina.
Segundo ele, o convênio tecnológico entre a Petrobras e a Pemex é importante já que toda a produção de petróleo no México é baseada em reservatórios carbonatados, semelhantes aos do pré-sal.
A Petrobras México opera dois blocos terrestres (Cuervito e Fronterizo) que produzem gás natural. No projeto, licitado em 2002, a Petrobras se associou ao grupo mexicano Diavaz e ao japonês Tecoco. Os blocos produzem 1 milhão de metros cúbicos de gás por dia e o produto, depois de processado, é entregue à Pemex. A participação nesses campos foi a maneira que a Petrobras encontrou de estar presente no mercado mexicano. Mas a empresa não tem interesse de participar de novas licitações na área de gás natural no México.