A Petrobras dobrou os investimentos previstos no seu projeto de alcooldutos. Inicialmente avaliado em US$ 330 milhões e com previsão de conclusão em 2010, o programa receberá recursos da ordem de US$ 660 milhões (cerca de R$ 1,3 bilhão) e foi adiado para 2011. A expansão dos investimentos e do cronograma de obras deve-se à ampliação da malha, que passa, agora, a incluir o Centro-Oeste. Na versão original, o projeto restringia-se ao Sudeste. “Decidimos acompanhar a fronteira agrícola. O plantio de álcool está ultrapassando os limites do Estado de São Paulo”, afirma Marcelino Guedes, diretor de dutos da Transpetro, subsidiária da área de logística da estatal que ficará a cargo do programa. Hoje, o diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, anuncia o detalhamento do investimento de US$ 23,1 bilhões na área de Abastecimento para o período 2007/2011.
Ao fim das obras, o projeto dos alcooldutos vai triplicar as exportações brasileiras de álcool. A meta é vender ao mercado internacional 8 milhões de metros cúbicos de combustível. Em 2005, foram embarcados 2,6 milhões de metros cúbicos de álcool. O aumento nas exportações será possível pelo crescimento da produção nacional associado à maior demanda externa. A União da Agroindústria Canavieira de São Paulo, que reúne mais 60% da produção nacional de açúcar e álcool, estima que o setor terá crescimento de 50% nos próximos cinco anos, com investimentos de US$ 14 bilhões em 89 novas usinas. Na última safra, encerrada em abril, as 340 usinas em operação no País produziram 7,7 milhões de metros cúbicos de álcool. A maior parte das novas unidades será erguida em São Paulo, Minas Gerais e Goiás. Daí a expansão do projeto de alcooldutos para o Centro-Oeste.
Do lado da demanda, as expectativas também são promissoras. Semana passada, em visita ao Brasil, o presidente da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), Edmund Daukoru, afirmou que a adição de álcool à gasolina será uma tendência no médio a longo prazo. O Japão, por exemplo, estuda elevar de 3% para 10% o percentual permitido para adição de álcool à gasolina. A Petrobras mantém uma joint venture com a empresa japonesa Nippon Alcohol, justamente com o objetivo de penetrar no mercado japonês. A idéia é iniciar vendas de 20 milhões de metros cúbicos por ano a partir de 2008. A estatal também tem contrato com a Venezuela. Em 2005, foram exportados 50 milhões de metros cúbicos para o país.
A Petrobras não tem intenção de produzir álcool, apenas na conexão com as usinas de açúcar e álcool e o mercado internacional. O programa de alcooldutos está estruturado em quatro fases. A primeira, chamada de fase zero e única já em andamento, compreende a adequação dos dutos já existentes que ligam a Refinaria de Paulínia (Replan), em São Paulo, ao Terminal de Ilha D’água, no Rio de Janeiro. “Hoje, podemos transportar 480 mil metros cúbicos por ano de álcool nesse trecho. A estimativa é aumentar esse volume para 2,8 milhões de metros cúbicos por ano”, informa Guedes. Na etapa seguinte, será feita a ligação da Replan ao terminal de Guararema (SP), com o objetivo de aumentar a capacidade do sistema existente, que terá tanques adaptados para o etanol.
A terceira etapa ligará os terminais de Uberaba (MG), Ribeirão Preto e Paulínia (SP). Está prevista ainda a construção de novos terminais e barcaças na hidrovia Tietê-Paraná e um novo duto conectando o Tietê até Paulínia. As duas fases seguintes compreendem os novos trechos do projeto, conectando Brasília a São Paulo. O duto levará a produção do norte paulista, triângulo mineiro e sul de Goiás para Paulínia. Essas duas últimas fases também abrangem um duto de Guararema a São Sebastião, ambos em São Paulo. Hoje, considerando toda a malha existente, a Transpetro tem capacidade de exportar 1 milhão de metros cúbicos de álcool por ano.
Paralelamente, a Única e o governo estadual de São Paulo estão estudando a viabilidade econômica da construção de dutos em faixas de domínio das rodovias paulistas para exportação de álcool pelos portos de Santos e São Sebastião. Um protocolo de intenções entre a entidade e a Secretaria de Transportes de São Paulo com este fim foi assinado no mês passado.