A Petrobrás, a Braskem e o Grupo Ultra anunciam entre hoje e amanhã a compra da Companhia Brasileira de Petróleo Ipiranga, que possui operações na área de petróleo e derivados, petroquímico, produção de energia e exploração de petróleo. Segundo uma fonte, será um dos maiores negócios do setor químico e petroquímico dos últimos tempos.
O desenho final da aquisição da Ipiranga foi fechado na última sexta-feira numa reunião do Conselho de Administração da Petrobrás, na sede da companhia no Rio de Janeiro. Ainda não se sabe o valor do negócio, mas o mercado estima que o Grupo Ipiranga vale cerca de US$ 1,5 bilhão. Em 2006, a receita líquida da Ipiranga foi de R$ 21,6 bilhões, 13,4% superior à de 2005.
O negócio atende aos objetivos dos mais de 60 acionistas do Grupo Ipiranga, que queriam vender a companhia integralmente e não em partes. A empresa é controlada por cinco grupos familiares: Tellechea, Ormazabaal, Gouvêa Vieira, Matos e Aguiar. Segundo uma fonte do mercado, a empresa será adquirida inteiramente, mas dividida entre os novos controladores. A divisão petroquímica do Grupo Ipiranga será assumida pela Braskem, maior companhia do setor na América Latina, controlada pelo Grupo Odebrecht, e a Petroquisa, braço petroquímico da Petrobrás.
Procurada pelo Estado, a diretoria da Braskem não foi encontrada.
A divisão petroquímica do grupo é formada por três empresas: a Ipiranga Petroquímica (IPQ) que tem capacidade para produzir 700 mil toneladas de polietileno e polipropileno por ano nas cinco unidades industriais instaladas no Pólo Petroquímico de Triunfo (RS); a Empresa Carioca de Produtos Químicos (EMCA), do Pólo de Camaçari, é responsável pela produção de óleos minerais e fluídos especiais; e a Ipiranga Química, responsável pela distribuição de produtos químicos e petroquímicos no mercado brasileiro.
A divisão de petróleo terá outro destino, segundo a fonte ouvida pelo Estado. Além da Ipiranga Asfalto e da Refinaria de Petróleo, com capacidade para refino de 12,5 mil barris por dia — localizada em Rio Grande (RS) -, o grupo tem duas empresas de distribuição de combustíveis e é hoje a segunda maior do País, atrás da BR. O negócio deverá ser assumido pela Petrobrás e pelo Grupo Ultra.
Com a distribuição da Ipiranga, a Petrobrás poderá elevar o controle do mercado de combustíveis dos atuais 32% para 50%, o que fatalmente suscitará discussões no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Não há detalhes sobre o que deverá ocorrer com os negócios de gás natural e exploração de petróleo. A Ipiranga mantém a participação de 20% na companhia Transportadora Sulbrasiliana de Gás (TSG) e detém mais 26% da Usina Termogaúcha.
Em prospecção de petróleo, o grupo mantinha uma fatia de 20% de uma área de exploração no Campo de Camamu e outros 40% num campo localizado no Recôncavo Baiano.
MERCADO
As ações da Ipiranga tiveram forte elevação na última sextafeira, o que alimentou ainda mais os rumores de que o negócio havia sido fechado. O principal papel da Ipiranga valorizou 3,57% num dia em que o índice Bovespa, principal termômetro da bolsa paulista, recuou 1,27%.
A Petrobrás chegou a disputar a Ipiranga com outras empresas, como a espanhola Repsol, em um processo de venda que movimentou o mercado de combustíveis no início da década. As negociações, na época, não chegaram a nenhuma conclusão, segundo analistas, devido ao alto preço pedido pelos acionistas para a companhia, que enfrentava dificuldades financeiras.
Além disso, a intrincada teia de acionistas dificultava melhor avaliação dos compradores. Nos últimos anos, porém, a Ipiranga passou por um intenso processo de saneamento financeiro.
Em 2006, o grupo teve um lucro de R$ 533,8 milhões, 3,1% superior ao registrado no ano anterior. A empresa bateu recordes na venda de combustíveis e de produção de resinas petroquímicas, mas vem enfrentando problemas na área de refino, já que não consegue competir em igualdades de condições com a Petrobrás.