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Pesquisa caracteriza variáveis climáticas para combater ferrugem alaranjada

A cultura de cana-de-açúcar no Brasil sofre com a ocorrência de doenças capazes de reduzir o rendimento do canavial, fato que representa um dos maiores desafios para a comunidade canavieira. Carvão, ferrugem marron, mosaico, escaldadura, amarelinho e raquitismo são moléstias que atacam essa cultura. Porém, a recém introduzida ferrugem alaranjada, causada pelo fungo Puccinia kuehnii, despertou o interesse de pesquisadores devido ao seu elevado potencial destrutivo.

Em estágio profissionalizante realizado no Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), a acadêmica Dayana Lardo dos Santos, do curso de Engenharia Agronômica da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ) desenvolveu, sob orientação do professor Pa ulo César Sentelhas, do Departamento de Engenharia de Biossistemas (LEB), o trabalho “Zoneamento da favorabilidade climática para a ocorrência da ferrugem alaranjada da cana-de-açúcar no Estado de São Paulo”. “Em dezembro de 2009, essa nova ferrugem chegou ao país e já vem apresentando danos à cultura, principalmente nas variedades suscetíveis RB72454, SP89-1115 e SP84-2025, chamando a atenção do setor”, explica Dayana.

Para estabelecer o zoneamento e os níveis de risco climático para a ocorrência da ferrugem no estado de São Paulo, de modo a subsidiar a alocação de variedades nas diferentes regiões produtoras, a pesquisadora caracterizou as variáveis climáticas condicionantes ao desenvolvimento da doença, a partir do levantamento das epidemias da ferrugem alaranjada ocorridas na Província de Queensland, Austrália, em 1999/2000 e, no estado de São Paulo, em 2009/2010. “Com vários tipos de ambientes de produção devido a sua extensão territorial, nosso país apresenta, entre os fatores produtivos, cultivo influenciado pelas condições edafoclimáticas, as quais determinam suas aptidões agrícolas e fitossanitárias”, revela a pesquisadora

A pesquisa aponta que, nos lugares onde a ferrugem alaranjada tem ocorrido, o controle tem sido feito basicamente com o plantio de variedades resistentes. Nas variedades suscetíveis, o controle vem sendo feito por meio de aplicação de fungicidas durante as janelas de favorabilidade à doença e no início do ciclo das infecções. “Porém, diz Dayana, vários aspectos importantes ainda precisam ser conhecidos para um manejo adequado e racional da doença, sendo as condições, épocas e locais mais favoráveis para a ocorrência da doença informações extremamente necessárias”.

Dessa forma, foram estabelecidas como variáveis climáticas favoráveis à ocorrência da ferrugem alaranjada o número de decêndios com excedente (NDEXC) e o número de decêndios com temperatura média ideal (NDTideal). Essas variáveis foram utilizada s no desenvolvimento de modelos lineares para determinação da severidade da doença, com base nos dados observados em diferentes regiões do estado. A elaboração do índice de Favorabilidade Climática à Ferrugem Alaranjada da Cana-de-açúcar (IFAC) se baseou na ponderação das severidades estimadas para séries de 15 a 30 anos. Posteriormente, o IFAC foi correlacionado com as coordenadas geográficas e a altitude, o que permitiu se estimar o IFAC para todo o estado. O índice de favorabilidade foi empregado na confecção dos mapas de risco estabelecendo-se o zoneamento das regiões de favorabilidade climática à doença.

“Observou-se que as regiões canavieiras no oeste do estado, apresentaram risco de muito baixo a moderado, enquanto as regiões no centro-leste apresentaram risco moderado-alto, o que coincidiu com as observações da severidade no ano 2009/2010”, conclui a pesquisadora.

Danos da ferrugem alaranjada

Os primeiros sintomas da ferrugem alaranjada são pequenas pontuações alongadas com halo amarelo esverdeado pálido que evoluem gradativamente para pústulas salientes e, conforme o amadurecimento e produção de urediniosporos, vão se tornando alaranjadas a alaranjadas amarronzadas. As pústulas tendem a se agrupar próximas ao ponto de inserção da folha ao colmo, sendo em condições de alta severidade da doença comum à coalescência das mesmas e necrose das folhas, que geralmente ocorre a partir das bordas. Esse agrupamento pode causar o rompimento das folhas com conseqüente perda de água pela planta, levando a um estresse hídrico comprometendo o desenvolvimento da cultura.