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Pecuaristas passaram a arrendar terras para as usinas de etanol em SP

O Jornal Nacional está apresentando esta semana uma série de reportagens sobre as incertezas que cercam a produção de etanol no Brasil. Na reportagem desta quinta-feira (5), Rildo Herrera foi ao campo e às usinas mostrar a cadeia produtiva do biocombustível e entender por que o preço não cai nos postos.

A paisagem do Oeste Paulista já não é a mesma. Na década de 80, a região era conhecida como capital da pecuária de corte. Lá, era definido o preço do produto que servia de referência para todo o país. Mas, a partir de 2001, o boi deixou de reinar sozinho nessas bandas. Os pastos foram sendo substituídos pela cana-de-açúcar.

Os pecuaristas passaram a arrendar suas terras para as usinas de etanol. André tinha 5 mil cabeças de gado, agora só restam 500 e não se arrepende. “Vários amigos da gente, produtores de boi, de vaca, trocaram as suas fazendas de gado pra cana-de-açúcar por causa da rentabilidade, exatamente só por conta disso”, diz pecuarista André Jacinto.

Nos últimos três anos, a área plantada na região cresceu 25 % e já ultrapassa 496 mil hectares. Em todo o país a expansão de 2009 para cá foi de 11%. Só que mesmo com o aumento da área de plantio, o Brasil colheu menos cana-de-açúcar. Em 2010 a produção foi de quase 624 milhões de toneladas. Em 2011 caiu 8%, ou seja, 52 milhões de toneladas a menos.

“Foi uma perda gigantesca. Uma perda que decorre dos baixos investimentos nos canaviais de 2008 para frente, fruto da crise financeira que atingiu um terço do setor, e também de problemas climáticos muito grandes em, termos de seca e mesmo na geada deste ano”, explica Marcos Jank, diretor da Única.

A falta de regulação também afeta o setor. Na década de 70, o governo criou o Pró-Álcool para aumentar a oferta do biocombustível. A partir de 1991, começou a retirar os incentivos. E aos poucos, os rumos da produção passaram a ser ditados de acordo com as leis de mercado, já que não existe política definida sobre estoque regulador, por exemplo, como no caso da gasolina.

Uma das mais novas usinas do Oeste Paulista já está passando por mudanças. Nessa safra, a usina produziu apenas álcool. Foram 134 milhões de litros. Mas para aproveitar a valorização do açúcar no mercado internacional, um novo complexo industrial está sendo construído, exclusivamente para a fabricação do produto.

Em 2010, as exportações brasileiras de açúcar somaram US$ 12 bilhões. No ano passado, foram de US$ 13 bilhões.

Outro concorrente do álcool hidratado, que vai direto para o tanque dos carros, é o álcool anidro, que é misturado à gasolina. Essa concorrência fez com que a produção do hidratado caísse e a do anidro aumentasse na última safra. Quer saber quanto isso quer dizer nos postos? Menos 5 bilhões de litros de álcool hidratado, o que daria para encher o tanque de 111 milhões de carros de passeio.

E com menos oferta do produto, o preço sobe nos postos. Ao consumidor também só resta se adaptar às leis do mercado. “Eu tenho dois carros, mas estou andando com o carro à gasolina, porque o a álcool não está compensando”, conta um motorista.

Os usineiros avaliam que só com uma recuperação rápida da produção, o preço do álcool voltará a ser atrativo.

“O álcool não precisa de necessariamente voltar a custar R$ 0,60. Ele precisa ser competitivo com a gasolina”, avalia Valmir Barbosa, diretor de operações de uma usina.