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Parte da família Biagi ainda resiste à venda da Santelisa Vale

Apresentada como irreversível quando foi anunciada, no início de abril, a incorporação da Santelisa Vale pela multinacional francesa Louis Dreyfus ainda corre risco de não se confirmar por divergências envolvendo o comando da operação, mas esta possibilidade diminuiu bastante na quinta-feira.

O Valor apurou que, na quinta-feira pouco antes do almoço, em conversa reservada com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, um dos acionistas da família Biagi, dona da Santelisa, tentou acordo paralelo para manter o controle da usina por meio de um possível aporte do banco. Diante da negativa, a tendência é que família assine nos próximos dias a venda da empresa, na qual os atuais acionistas ficarão com cerca de 30% da fatia em seu antigo império.

Mas parte dos Biagi, que estão há 111 anos no Brasil – quase 90 anos deles dedicados ao segmento sucroalcooleiro – ainda resiste.

Em situação financeira delicada, a Santelisa negocia suas dívidas com os bancos credores e fornecedores. E isso é fundamental para que a venda se concretize. Por conta disso, a Santelisa já bateu o martelo e vai se desfazer dos 25% de participação que possui na Tropical Bionergia, na cidade de Edéia (GO), em parceria com o grupo inglês British Petroleum (BP), com 50%, e Maeda, com outros 25%, e também de sua fatia no projeto da Amyris, que chegou ao Brasil para produzir biodiesel a partir da cana, segundo apurou o Valor.

Procurado, o empresário André Biagi, controlador da Santelisa, negou, por meio de sua assessoria, resistência nas negociações com o grupo Louis Dreyfus.

Fontes familiarizadas com a negociação afirmaram que o conselho da família Biagi reuniu-se, na quinta-feira, e decidiu manter o acordo preferencial com a Dreyfus, uma vez que uma sinalização do BNDES de adquirir maior participação na Santelisa, por meio do BNDESPar, não deveria s air antes do dia 31 de julho, fim do prazo de acordo preferencial com a Dreyfus. O BNDESPar também não deverá elevar sua participação na companhia, informaram as fontes.

A resistência dos Biagi na venda para a Dreyfus começou nas últimas semanas, quando parte da família Biagi e a família Junqueira (acionistas da Vale do Rosário, de Morro Agudo, incorporada na fusão com a antiga Santa Elisa), questionaram os termos do pré-acordo assinado com a múlti. Essa parte da família entrou em conflito, levando os irmãos Biagi a buscar uma nova solução que os manteria no controle.

No Brasil desde 1888, a família Biagi começou a produzir açúcar em 1922. Controladores de uma empresa engarrafadora da Coca Cola e também de indústria equipamentos a Sermatec/Renk Zanini, os Biagi deram um grande salto em 2007 ao promover a fusão da Santa Elisa com a Vale do Rosário e outras três usinas paulistas, tornando-se o segundo maior grupo do setor no país. Os negócios começaram a desandar no a no passado, quando o setor já passava por uma profunda crise, e se agravou ainda mais com turbulência financeira global.

Altamente alavancada (com dívidas de R$ 3 bilhões), a Santelisa não tinha outra solução a não ser encontrar um sócio. “Um sócio é fundamental para o grupo”, disse uma das fontes familiarizadas com as negociações. O perfil agressivo dos novos controladores começou a desagradar os atuais acionistas. Segundo a mesma fonte, os executivos franceses também quiseram rever cláusulas do pré-acordo assinado com os Biagi, o que teria desencadeado a busca por “um plano B”. Procurado, o grupo Louis Dreyfus não comenta o assunto.

“A resistência da família é natural, uma vez que os acionistas estão no setor há muito tempo. É um sentimento de frustração muito grande”, afirmou a fonte. “A família Biagi é uma das mais conhecidas no setor e na região de Ribeirão Preto. Maurílio Biagi [pai dos atuais acionistas, falecido em 1978] é referência até hoje.”