Sem um mercado produtor mais amplo, o etanol não terá espaço em escala mundial, segundo análise compartilhada entre Clifford Sobel, embaixador dos EUA no Brasil, e André Amado, ex-embaixador brasileiro no Japão e atual subsecretário geral de energia e alta tecnologia do Ministério de Relações Exteriores. “A comercialização do etanol não pode se dar com dois países produtores”, afirmou Sobel, nesta quarta-feira no congresso Ethanol Summit, realizado em São Paulo. De acordo com o embaixador, os EUA estão “olhando para a África”, como um potencial produtor de biocombustível.
Amado informou que a “primeira prioridade” do governo, segundo orientação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é aumentar os produtores de etanol no mundo, para que o combustível vire uma commodity. “Isso só aconteceria com o aumento dos produtores e dos consumidores”, ressaltou.
O embaixador dos EUA destacou que há um grande espaço no mercado americano para biocombustíveis de outros países, criado pela meta da Lei de Independência e Segurança Energética. De acordo com a meta estabelecida em 2007, os EUA deverão ter pelo menos 36 bilhões de galões de biocombustível misturados à gasolina ao ano, até 2022.
Ao mesmo tempo, a lei limita a participação do etanol de milho, por questões de segurança alimentar, em 15 bilhões de galões ao ano – hoje a produção está em 9 bilhões. “Este gap (vazio) tem que ser preenchido por outros biocombustíveis”, afirmou Sobel.
Compromisso
De acordo com o embaixador, há uma grande predisposição aos biocombustíveis no país. “Os EUA têm um compromisso, especialmente agora com o presidente Obama, com os biocombustíveis”, salientou Sobel. No entanto, o diplomata esquivou-se da discussão das taxas alfandegárias praticadas pelos norte-americanos: “A questão das tarifas está a cargo do Congresso e não do executivo”.
A Fundação Getúlio Vargas (FGV) tem desenvolvido, a pedido do Brasil, pesquisas em países da América Central e da África com potencial para a produção de biocombustíveis. Segundo Cesar Cunha Campos, diretor executivo da FGV projetos, as pesquisas consistem em análise do solo, capacidade de produção de biomassas e desenvolvimento de projetos de investimento para as regiões.
“Oitenta por cento da energia da República Dominicana vêm de petróleo importado. Uma situação de extrema dependência energética. O mesmo acontece em El Salvador, que depende em 50% do petróleo importado”, destacou Campos. Segundo o diretor, com a produção de biocombustíveis, esses países podem diminuir a dependência da importação. No caso do Haiti, uma termoelétrica de biomassa dobrará a capacidade energética do país.