Mercado

Para além das negociações

Importante seminário foi promovido pela Amcham-SP na semana passada sobre a necessidade de maior conhecimento e participação, por parte do setor privado, das negociações internacionais em que o governo brasileiro está envolvido. Refletia também sobre oportunidades para o Brasil fora da moldura de grandes acordos comerciais. Por negociações internacionais, de uma ótica brasileira, hoje entende-se quase que exclusivamente o tripé Alca/UE-Mercosul/Rodada de Doha da OMC. Estaria faltando, nesses tabuleiros, maior atenção do empresariado nacional quanto à relevância das negociações para o País. Sem dúvida, as negociações “governo a governo” representam, nos níveis pluri ou multilaterais, um motivo de atenção para o setor privado. Segmentos de produtos em que o Brasil apresenta claras vantagens competitivas, como açúcar, calçados, cítricos, siderúrgicos, o agronegócio em geral e tantos outros, dependem em grande medida de regras do jogo mais justas no comércio internacional. No entanto, há uma questão prévia, ainda mais importante do que avaliar em que medida essas negociações são determinantes para nosso destino econômico. Será que o Brasil quer fazer do comércio exterior sua principal via de inserção na economia global? Desejamos que o comércio exterior se torne nossa ferramenta privilegiada para a construção de poupança nacional e portanto de recursos para investir? Ora, se a resposta for positiva, não podemos acomodar-nos na constatação de que o comércio internacional é injusto. A assimetria do comércio internacional não deve representar uma “desculpa paralisante” para nosso esforço de comércio exterior. É claro que as negociações pluri ou multilaterais hoje são importantes, pero no mucho. Ademais, o passado nos permite ser bastante pessimistas quanto à boa vontade dos negociadores oficiais dos principais mercados desenvolvidos. O sistema multilateral de comércio já conta quase seis décadas. Basta lermos relatos de embaixadores como Roberto Campos ou George Álvares Maciel para nos dar conta de que, em vários momentos nos últimos 60 anos, a sensação era de iminente costura de acordos multilaterais que mudariam para sempre o panorama das trocas internacionais, pavimentando o acesso definitivo ao desenvolvimento para todos os países. Não se pode dizer que acordos multilaterais tenham sido responsáveis pela decolagem rumo ao desenvolvimento de qualquer país nesse período. Coréia do Sul, China e Chile acresceram suas rendas nacionais de maneira dramática nos últimos anos, sem nenhuma ênfase a negociações pluri ou multilaterais como principal elemento de sua estratégia comercial. No processo de integração européia, posto em marcha desde 1950, muitos outros fatores, sobretudo os de natureza política, presidiram o êxito da dinâmica econômico-comercial. Centrar a estratégia de inserção comercial do nosso país apenas na busca de um “final feliz” para as negociações pluri ou multilaterais nos faz perder o foco. Para abusar das metáforas futebolísticas tão em moda, é como se um país desejasse tornar-se potência do futebol mundial colocando o cerne de sua estratégia em bons advogados em Zurique, sede da Fifa. O importante mesmo é saber jogar bola. Até um dos mais fiéis defensores do multilateralismo, o embaixador Rubens Ricupero, reconhece que os brasileiros estão exagerando a importância das negociações. Temos portanto que substituir noções simplistas, como a idéia de que “a Alca pode ser interessante para o Brasil se for bem negociada”, por questões como “qual nossa estratégia de promoção comercial, com ou sem Alca, para o mercado norte-americano?”. Para tanto, a exemplo do que lograram chineses e mexicanos, é claro que um acordo com um grande mercado comprador é de enorme ajuda, seja pela via bi, seja pela via plurilateral. Ao lado das negociações, há pelo menos um “quarteto” de prioridades: 1) A facilitação da legislação interna para abertura de empresas de vocação exportadora. 2) Ênfase nos aspectos logísticos de projetos a serem contemplados pelas PPPs. 3) Formação de recursos humanos especializados, no âmbito do setor privado, para a promoção comercial no exterior e a atração de IEDs. 4) Fortalecimento da presença das micro e pequenas empresas, mediante consórcios exportadores. Boa imagem de como devemos lidar com os desafios das trocas internacionais é a do nosso maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima. Haveremos de estar preparados para uma corrida de fôlego e subir ao pódio – ainda que alguns tentem, injustamente, barrar nosso caminho. kicker: Não podemos acomodar-nos na constatação de que o comércio internacionalé injusto (Gazeta Mercantil/Caderno A – Pág. 3)(Marcos Troyjo – Presidente internacional da Gazeta Mercantil e vice-presidente de Conteúdo & Projetos da Editora JB.E-mail: [email protected] )