O açúcar sobe de cotação no mercado internacional e o Brasil estima faturar a expressiva soma de US$ 10 bi este ano com suas exportações.

Entretanto, já se prevê também que o aumento na exportação do açúcar vai reduzir o volume de álcool no mercado interno dentro de uns dois meses. Da cana, ou se faz açúcar ou se faz álcool. E o elemento regulador é o mais óbvio, num país de economia livre: a cotação de cada um no mercado.

Entretanto, há quem diga que, como o álcool participa fortemente da nossa matriz energética, o governo deveria ter pensado e implantado um sistema de depósitos reguladores para absorver o produto durante a safra e evitar sua falta (e aumento de preço) na entressafra.

Estamos diante da repetição do mesmo quadro que se desenhou no ano passado: a produção caiu, o etanol faltou, os preços subiram e os “burrocrata s” do governo federal imaginaram importá-lo, ignorando sua inexistência (pelo menos nos volumes necessários) no mercado mundial.

Apelaram então para a solução mais simplista e típica de quem passa ao largo da palavra planejamento: com uma canetada, reduziu-se a mistura (de 25% para 20%) do etanol anidro na gasolina e a sobra foi — hidratada — para as bombas. Muito mais simples do que pensar, planejar, formar estoque regulador, garantir preço… Coisa de gênio, não?

No fim da década de 1980, quando quase 100% dos modelos nacionais tinham motores que só queimavam o derivado da cana, ele faltou nos postos. Exatamente porque os usineiros preferiram produzir o açúcar, que estava em alta no mercado internacional. Foi a derrocada do Pró-álcool.

Quinze anos depois, a eletrônica permitiu desenvolver o carro flex. Sua vantagem é a independência em relação aos usineiros: se o etanol custar até 70% do preço da gasolina é mais vantajoso utilizá-lo. Seu preço subiu e deixou de ser vantajoso? Passa para a gasolina!

É difícil compreender essa operação (que, pelo jeito, vai se repetir) em que o Estado interfere num mercado — em princípio — autorregulável.

Sem a canetada governamental, o preço maior do álcool na bomba resulta numa corrida dos motoristas atrás da gasolina.

Há quem diga, portanto, que é desnecessária a manobra de reduzir a mistura do etanol anidro para 20% e transformá-lo em hidratado no posto, pois o mercado se estabiliza de acordo com suas próprias conveniências. Afinal, essa não é a grande vantagem do carro flex?

Mas o governo brasileiro prefere interferir, resolver “na marra” e acaba sobrando para o consumidor. Como o etanol é mais barato, assim que seu teor é reduzido (de 25% para 20%), os postos imediatamente sobem o preço da gasolina na bomba.