Tradicional produtor de açúcar do Caribe, o Panamá ambiciona agora entrar para o seleto grupo de produtores de etanol do mundo. E, para isso, conta com a expertise e a tecnologia do setor sucroalcooleiro do Brasil, a exemplo do que já ocorre com outros países vizinhos da região.
Uma delegação composta por empresários e autoridades panamenhas, chefiada pelo presidente Martín Torrijos, está no país para discutir uma parceria mais estreita entre os dois países. Na mesa, está o interesse do Panamá em conhecer mais sobre o modo de produção e as variedades de cana brasileira. Do lado do Brasil, a vantagem em ter uma porta de acesso ao Pacífico e aos EUA e – mais que isso – dar fôlego aos esforços de transformar o etanol numa commodity internacional.
O presidente Torrijos veio pessoalmente conhecer os mecanismos utilizados pelo Brasil para a criação de um marco jurídico que abra caminho para uma política nacional de bicombustíveis. A intenção do governo panamenho é substituir 10% da gasolina por álcool, reduzindo a sua dependência de petróleo. O país importa hoje todo o combustível que consome – 160 milhões de galões anualmente (ou cerca de 727 milhões litros).
“Queremos criar um marco jurídico para formar as condições para desenvolver nossa indústria. E o Brasil pode nos ajudar com isso”, disse Torrijos, após uma reunião na tarde de ontem com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar Unica, em São Paulo, da qual saiu carregado de brochuras sobre o álcool brasileiro.
Com uma produção de 150 mil toneladas de açúcar por ano, o Panamá teria condições de produzir cerca de 60 milhões de litros de álcool, quase os 10% de álcool que deseja substituir na gasolina, estima a Unica. Para isso, a área destinada à cana-de-açúcar poderia ao menos dobrar dos atuais 25 mil hectares para 50 mil. Terras, diz o governo, há.
Fernando Ribeiro, secretário-executivo da Unica, acredita que o Brasil pode ganhar duas vezes com uma parceria dessas: com as exportações de etanol para o Panamá enquanto suas usinas se adaptam à produção do combustível; e com a chance de se exportar álcool para os EUA sem tarifas. “O Panamá pode ser uma plataforma de exportação importante para nós”, afirma Ribeiro.
O Brasil já reprocessa álcool em quatro países do Caribe que mantêm acordos preferenciais com os EUA – Jamaica, Costa Rica, Trinidad e Tobago e El Salvador. Essas unidades reindustrializam o álcool hidratado para exportar ao mercado americano. Em 2006, o país reprocessou 470 milhões de litros de álcool no Caribe.