Depois de quase seis anos de denúncias de que o consumo de combustível dos veículos é um ralo para a economia americana e uma ameaça à segurança dos motoristas, o governo do presidente George W. Bush cedeu no início deste ano – mais ou menos.
Depois de seu discurso sobre o Estado da União em janeiro, em que o presidente pediu que o país ponha fim ao seu “vício em petróleo”, o governo promulgou o que chamou de “mais ambiciosas metas de economia de combustível para caminhonetes já desenvolvidas”.
A medida pareceu uma grande virada para um governo que constantemente resistiu a qualquer esforço agressivo para convencer os americanos a reduzir os quase 21 milhões de barris de petróleo que consomem por dia, dois terços em transporte. Bush também está pedindo ao Congresso mais autoridade para definir novos padrões de consumo, o que a Câmara dos Deputados deverá decidir este mês.
Mas, assim como várias outras iniciativas desde o iscurso de janeiro, o endurecimento dos chamados padrões de economia de combustível média corporativa (CAFE) em março foi mais fumaça que fogo. O pequeno aumento na economia média exigida para os veículos utilitários esportivos (SUV) e caminhonetes – de 9,15 km/litro para 10,15 km/litro a partir de 2011 – foi amplamente contrabalançado pela manutenção de brechas destinadas a agradar aos fabricantes de carros de Detroit.
Esse padrão se repete mesmo depois que o aumento dos preços do petróleo e a possibilidade de confronto com o Irã empurraram a segurança energética para o topo da agenda do governo.
A Casa Branca prometeu iniciativas agressivas em combustíveis alternativos, tecnologias mais eficientes e novas explorações da energia convencional. Mas evitou quaisquer medidas que pudessem reduzir significativamente o consumo de energia em curto prazo.
“O governo Bush reflete em grande parte a ideologia do livre mercado sobre combustível, que é que o governo não tem muito a acrescentar ao mercado”, diz Bill Prindle, vice-diretor do Conselho Americano para Economia de Eficiência Energética (ACEEE). “A única exceção é o investimento do governo em tecnologia, que com Bush é em longo prazo e tecnologia de alto risco. Os problemas estão próximos, mas a solução que Bush propõe é principalmente em pesquisa, que poderá levar décadas para dar resultados, se der.”
A relutância em endurecer os padrões do CAFE é o exemplo mais laro dessa abordagem, e que tem maiores conseqüências. Sherwood Boehlert, um deputado republicano moderado e presidente da Comissão de Ciência da Câmara, diz que “aumentar os padrões de economia de combustível é o passo mais importante que o Congresso pode dar para reduzir o que o presidente corretamente identificou como vício em petróleo dos EUA”.
Na década desde que o Congresso aprovou o programa em 1975, depois do primeiro embargo do petróleo, a economia de combustível dos novos carros americanos duplicou sob a pressão combinada dos preços mais altos do petróleo e rigorosos novos padrões oficiais.
Mas os padrões não foram elevados de novo até a ligeira modificação deste ano, e a economia dos veículos na verdade diminuiu desde meados dos anos 80 por causa da proliferação das minivans maiores e SUVs.
O ACEEE estima que uma repetição do esforço feito na década de 70 poderia economizar 3 milhões de barris/dia – mais que um quarto das importações diárias americanas, de cerca de 11 milhões de barris de petróleo cru. Isso supera em muito as economias prometidas por qualquer outra solução que não envolva tecnologias não testadas, como as células de combustível de hidrogênio.
Há sinais de que Bush poderá ser obrigado a aceitar que o problema de segurança energética não pode ser solucionado só pela pressão do mercado e por investimentos em novas tecnologias.
No mês passado um grupo bipartidário de senadores apresentou uma legislação que busca aumentar os padrões do CAFE em 4,23 km/litro em média na próxima década, para 14,81 km/litro até 2017, economizando 2,5 milhões de barris de petróleo por dia.
Isso se segue às medidas tomadas em maio por dez estados, incluindo alguns governados por republicanos, como Califórnia e Nova York, que processaram o governo federal para tentar forçar o endurecimento dos padrões de economia de combustível para caminhonetes e SUVs.
Em curto prazo, as perspectivas de uma mudança de posição do governo sobre os padrões CAFE, ou outras duras medidas de conservação, parecem tênues a menos que sejam forçadas pelo Congresso ou pela justiça. Mas com o petróleo pairando em cerca de US$ 3 o galão [US$ 0,79 por litro], um alto preço para um país que ainda tem uma das gasolinas mais baratas do mundo desenvolvido, a pressão do consumidor por alternativas mais eficazes está aumentando a probabilidade de uma ação mais agressiva.
Dianne Feinstein, deputada democrata pela Califórnia que está pressionando pela legislação CAFE, diz: “Quando os motoristas vão aos postos encher o tanque e custa US$ 60 em vez de US$ 20, é um assunto muito sério no meu estado”.