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País tem que pesquisar mais

A posição de liderança do Brasil na tecnologia de produção de álcool pode ser comprometida dentro de 10 anos, caso as empresas do setor não aumentem os seus investimentos em pesquisas e descobertas tecnológicas. O volume de investimentos nessa área está caindo desde a década de 70, quando eram gastos cerca de 2% de todo o faturamento em pesquisas. Atualmente, o setor gasta 0,3% da sua receita nessa área.

O ideal seria, segundo pesquisadores, que 1% da receita do setor fosse reinvestida em pesquisas, o que significaria um investimento de cerca de R$ 280 milhões por ano. “Vamos perder essa posição muito rapidamente, porque não estamos investindo em pesquisa e desenvolvimento. O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) tinha o dobro da verba há 20 anos e também o dobro de usinas contribuindo para a sua manutenção”, diz o presidente da Usina Moema, o empresário paulista Maurílio Biagi Filho.

Das 343 unidades produtoras de açúcar e álcool do País, somente 125 contribuem, atualmente, para a manutenção do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), responsável por grande parte das pesquisas de novas tecnologias na indústria sucroalcooleira. Localizado em Piracicaba, no interior do Estado de São Paulo, o CTC foi criado em 2004 e substituiu o antigo Centro de Tecnologia da Copersucar, que concentrou grande parte das pesquisas do setor desde a década de 70.

“Os recursos diminuíram porque o negócio de açúcar e álcool passa por ciclos de crescimento e de declínio da atividade. Na safra de 1999/2000, o setor passou por uma grande crise que resultou na diminuição de verba para as pesquisas. Agora, o setor está voltando a investir nessa área e o governo brasileiro está começando a perceber o grande potencial nas pesquisas do setor”, explica o diretor superintendente do CTC, Nilson Zaramella Boeta.

As pesquisas podem trazer, entre outras coisas, o aumento da produtividade que pode tornar o negócio de açúcar e álcool ainda mais lucrativo no País com a descoberta de novas matérias-primas que poderão se transformar em álcool ou com o aproveitamento de parte da cana-de-açúcar, que hoje não é utilizada no processo industrial, como a palha da planta. Até hoje, a cana-de-açúcar é a matéria-prima mais competitiva para fazer açúcar e álcool em todo o mundo.

“Novas tecnologias, como álcool de materiais celulósicos – como o bagaço da cana-de-açúcar e outros – não estão recebendo a devida atenção do setor e assim poderemos ficar para trás em dez anos”, afirma o ex-pesquisador do CTC Regis Leal, que trabalhou no Centro de Tecnologia da Copersucar entre 1986 e 2004. Ele hoje trabalha no Centro de Energia Alternativa do Ceará (Cenea) e atua como colaborador do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético da Universidade de Campinas (Unicamp).

É justamente na área de aproveitamento de material celulósico que os Estados Unidos estão desenvolvendo pesquisas para transformar qualquer resto vegetal em álcool e testar a viabilidade econômica dessa produção. Somente como exemplos, poderão ser aproveitados a casca de arroz, restos de madeira e até a palha e o bagaço da cana. Hoje, a produção norte-americana tem o milho como matéria-prima.

Atualmente, se aproveita um terço da cana que resulta no caldo, que depois é transformado em açúcar e álcool. “Um terço da planta se transforma em bagaço e outro terço é a palha da cana. Estamos pesquisando para aproveitar a palha e o bagaço”, conta Zaramella. Esse aproveitamento desses dois materiais poderia trazer um grande aumento na produção. O CTC também desenvolve variedades de cana-de-açúcar geneticamente modificadas que são mais resistentes a pragas e que têm maior grau de sacarose (açúcar). Em Pernambuco, a Usina Catende também implantou uma biofábrica com a finalidade de melhorar a qualidade da cana produzida na Mata Sul de Pernambuco.