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País busca eficiência para superar desafio da energia limpa e renovável

A adoção de energia limpa e renovável é um dos maiores desafios para a Holanda. Com pouco território para plantar e a preocupação constante em evitar a competição com a produção de alimentos, as estratégias envolvem muita tecnologia e parcerias internacionais para garantir o suprimento de biomassa, biocombustíveis líquidos, entre outras fontes.

Para encontrar soluções sustentáveis no segmento de energia, os aportes públicos e privados previstos em atividades de pesquisa e desenvolvimento são da ordem de 12 bilhões de euros em 20 anos.

“Diante da escassez, a saída está na eficiência”, comenta Jan Willem Erisman, gerente do Centro de Pesquisa em Energia da Holanda. Sua equipe estudou diversos cenários para ampliar o uso de energia verde na economia. Entre as conclusões está a de que a melhor opção é ter foco na redução das emissões em 80% até 2050 – meta que deve ser perseguida, na opinião dele, por toda a União Europeia.

A determinação holandesa já se reflete na paisagem conhecida mundialmente pelos moinhos de vento. O país dos moinhos agora está repleto de hélices para produzir energia eólica. O vento é um recurso abundante no país e a tradição de utilizar sua força continuará em voga. O esforço maior está em obter energia verde, sem interferir na produção de alimentos, criando sinergia entre natureza e operação industrial.

Para substituir o carvão mineral, a aposta tecnológica está em utilizar biomassa nas usinas termelétricas. A viabilização do insumo se dará pela aplicação da tecnologia de torrefação – tratamento químico que transformará o material biológico em carvão. “Além de ser mais fácil de transportar, a torrefação traz mais eficiência para a queima por separar resíduos da biomassa”, comenta Erisman.

Ele admite que a Holanda terá de importar biomassa para cumprir suas metas. Entre os países com maior potencial para comerc ializar o insumo está o Brasil. “É uma alternativa para rentabilizar o agronegócio. Em plantações de eucalipto destinadas à fabricação de papel, os resíduos podem virar biomassa para exportação”, exemplifica.

Outro potencial da biomassa torrada está na produção de óleo combustível, o que é possível com a utilização do processo de pirólise – técnica pela qual a matéria orgânica é decomposta após ser submetida a condições de altas temperaturas em ambiente sem oxigênio.

A ideia é liquefazer a biomassa para utilizar em veículos de todos os tipos, inclusive aviões. “Podemos controlar o ambiente químico para liquefazer a biomassa, com emissões mínimas de CO2, gerando óleo combustível”, explica Gerhard Muggen, diretor da BTG Bioliquids, lembrando que a companhia está investindo 15 milhões de euros na construção de uma fábrica na Holanda para produzir diesel a partir da pirólise da biomassa.

Já a rota da petroquímica BioMCN está na utilização da glicerina crua – resíduo da produção do biodiesel – para a fabricação de biomethanol, que pode ser misturado ao methanol ou ser utilizado sozinho. “Temos condição de produzir em escala comercial. Esperamos que as políticas da União Europeia para a mistura de biocombustíveis avance”, declara Rob Voncken, presidente da empresa.

Voncken admite que o biomethanol não é tão competitivo como o etanol brasileiro, o que pode prejudicar a adoção desse combustível pelos consumidores europeus. O biocombustível produz 50% menos energia que o methanol tradicional e 25% menos que o etanol de cana. “A tecnologia vai avançar para melhorar o desempenho”, afirma.

Os cenários que discutem a adição de bioenergia na Holanda são contemplados no estudo “A bio-based economy in the Netherlands – a macroeconomic outlook of large scale introduction of biobased resources in the dutch energy supply” (Bioeconomia na Holanda – um olhar macroeconômico sobre a introdução em larga escala de fontes naturais na oferta holande sa de energia, numa tradução livre para o português) realizado pelo Copernicus Institute, da Universidade de Utrecht, e pelo Instituto Holandês de Pesquisas de Economia Agrícola, vinculado à Universidade de Wageningen.

Segundo a pesquisa, até 2030 a Holanda terá de substituir pelo menos 30% dos produtos fósseis por biomassa – o que inclui o esforço dos setores de energia e indústria química.

Na produção de eletricidade, um ambiente internacional de alta tecnologia – que permitirá o avanço da energia verde – será possível inserir soluções que utilizam biomassa em até 29% da produção de energia na Holanda. Já a mistura de biocumbustíveis nos transportes pode chegar a 60%. No pior dos cenários, que conta com o atraso na evolução das gerações de biocombustíveis, os pesquisadores estimam que os planos para obter uma matriz energética mais limpa serão prejudicados.

Com as tecnologias atuais, em 2030 será possível ter entre 6% e 9% da matriz energética com eletricidad e obtida a partir da biomassa. No segmento de transportes, o índice de adoção cai para cerca de 20%.

Se as metas de desenvolvimento tecnológico forem alcançadas, a demanda anual por biomassa pode saltar de algo perto de 10 milhões de toneladas/ano de 2006 para quase 100 milhões de toneladas/ano em 2030, considerando a combinação de soluções com tecnologia de lignocelulose, biodiesel, etanol e resíduos orgânicos. A falta de inovação também reduz a demanda, que não chegará a 20 milhões de toneladas em 2030. (E.T.)