Nem tudo são agruras no agronegócio. Se é verdade que, para o setor de grãos e, particularmente, para a soja, os bons ventos das últimas safras se transformaram em tempo ruim, também é verdade que, nos demais subsetores, omomento é especialmente favorável. Enquanto as cotações da soja caíram 31% neste ano, os preços nos segmentos de carnes, citros (laranja), celulose, café e canade- açúcar estão em alta. É a área a que o vice-coordenador do Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial (Pensa- USP), Marcos Fava de Moraes, chama de 5Cs. Somadas, essas culturas detêm 45,3% das exportações e 50,2% do superávit comercial (exportações menos importações) do agronegócio, ou US$ 13 bilhões em 2003. No mesmo período, a soja foi responsável por 26% das exportações e por 30% do superávit do setor. A pecuária, por exemplo, é um dos destaques. Os levantamentos da consultoria Scot mostram que os preços da arroba do boi subiram 6% (em comparação com os vigentes em março) pelo efeito de algum atraso das chuvas: a quebra das pastagens retarda a engorda e reduz a oferta de animais para abate. A temporada das chuvas, que deveria ter começado em meados de setembro, teve início apenas no começo de novembro. Embora se trate de fator conjuntural, as expectativas são de que os preços se mantenham elevados por mais tempo. O Brasil, maior exportador mundial de carne, deverá consolidar esse posto, em parte como conseqüência do estrago causado pela doença da vaca louca sobre a pecuária européia. Além disso, a demanda interna deverá crescer, puxada pelo aumento do PIB e pela ligeira redução do rebanho a partir de 2006, como efeito do excessivo abate de matrizes ocorrido no início de 2004. São boas, também, as perspectivas para açúcar e álcool. A previsão de que os estoques de álcool cheguem a apenas 400 milhões de litros em abril (dez dias de consumo), vésperas da safra 2005, fez os preços do álcool anidro atingirem os R$ 0,98 por litro na semana passada, os maiores desde abril de 2003, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea- USP). Para 2005, a previsão da MB Associados é de que fiquem em torno dos R$ 0,80. Os preços do açúcar também devem manter- se em alta. Na semana passada, atingiram os R$ 31,54 a saca de 50 quilos, o nível mais elevado desde maio de 2003. A pesquisadora Miriam Piedade, do Cepea, explica que essa alta deve- se à prioridade dada pelas usinas à produção de álcool, mais rentável – 45% de açúcar ante 55% de álcool em outubro. Outro produto que apresenta um bom momento é o suco de laranja. Os registros das cotações obtidas em Nova York mostram alta de 33% em novembro em comparação com a média de julho. Alcançaram os US$ 0,76 por libra-peso (0,454 quilo). E os contratos futuros para janeiro apontam para US$ 0,77.Oanalista Maurício Mendes, da FNP, explica que o principal fator de alta foram os prejuízos provocados pelos furacões que assolaram a Flórida em setembro. As previsões são de que a safra 2005/06 dos Estados Unidos seja 27% inferior à de 2003/04. Na cafeicultura, o fundo do poço foi atingido em 2002, quando, na média anual, a saca do produto foi negociada a US$ 70,7 na Bolsa de Nova York. Pelos levantamentos da MB Associados, na média deste ano, os preços deverão ficar em US$ 99,5 e, em 2005, em US$ 126. O Brasil ainda detém a liderança da produção mundial apesar da provável quebra de pelo menos 8% da safra do ano que vem em relação à de 2004. No setor de celulose branqueada, o crescimento de 9% a 10% na demanda chinesa por papéis sanitários (papel higiênico e guardanapos) é o fator que mais vem pesando na alta. De umamédia de US$ 480 por tonelada, em 2004, as cotações deverão saltar para US$ 503 em 2005, prevê o vice-presidente do Grupo Orsa, Sérgio Amoroso. Enquanto isso, o superávit comercial do setor deverá aumentar de US$ 2,0 bilhões para US$ 2,8 bilhões. Enfim, como observa o especialista André Pessoa, da Agroconsult, é assim que o agronegócio vai escapando da armadilha da “sojificação”, a excessiva concentração da produção na soja, que agora vai apanhando com a queda dos preços.
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