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Oligopólio pressiona preços, diz pesquisador

Mais que distribuidoras e postos, são as usinas as maiores responsáveis pelos aumentos do preço do álcool combustível, avalia Sérgio Alves Torquato, pesquisador do Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo.

Em artigo publicado no site do IEA (www.iea.sp.gov.br), Torquato diz que a concentração do setor sucroalcooleiro em grandes grupos de comercialização resultou no aumento da participação das usinas na composição do preço do álcool. Segundo ele, tal situação “aponta com nitidez exercício de poder de oligopólio numa cadeia de produção onde alguns agentes absorvem margens dos outros, penalizando os elos que apresentarem maior dispersão”.

Torquato afirma que três grandes grupos detêm de 30% a 40% da produção de álcool. Com isso, a participação das usinas na composição do preço do álcool anidro e hidratado passou de 49% em 2003 para 53% em 2005. A participação dos postos na formação do preço do combustível caiu de 20% para 15%. Já a participação das distribuidoras se manteve praticamente estável: era 31% e passou para 32%. Os dados são da Agência Nacional do Petróleo (ANP). O pesquisador lembra que há uma concentração dos estoques do combustível, o que proporciona às usinas maior poder de barganha junto às distribuidoras, possibilitando aumento nos preços. Torquato considera que o oligopólio das usinas explica, pelo menos em parte, o aumento dos preços do álcool, que tem sido praticamente contínuo desde junho de 2005. O pesquisador ressalta que, com o aumento, a relação entre os preços do álcool e da gasolina, que era de 63% no Brasil e 57,7% em São Paulo em dezembro, saltou para 66,6% (Brasil) e 61,5% (São Paulo) em janeiro.

A alta dos preços do combustível também deriva, lembra Torquato, da falta de estoques reguladores geridos pelo governo para abastecimento do mercado nos períodos de entressafra. Mas ele sublinha o alto custo financeiro de tais estoques, públicos ou privados, por conta das altas taxas de juros no País. “Como não existem estoques governamentais, as usinas, de sua posição oligopólica, estão cobrando do consumidor o ressarcimento dos custos de terem de carregar estoques. Na entressafra, nessas condições de mercado, trata-se de decisão de manter as rentabilidades operacionais”, avalia.

A persistirem os aumentos de preços o pesquisador acredita que a demanda pelo álcool combustível vai cair, forçando um ajuste para baixo nos valores cobrados pelas usinas, distribuidoras e postos