Menos de 12 horas depois do ataque terrorista aos Estados Unidos, no último dia 11 de setembro, jornais do mundo todo publicavam projeções indicando que o preço do barril de petróleo poderia chegar a US$ 50 caso o presidente George W. Bush determinasse ações militares no Oriente Médio.
Os mesmos jornais mostravam cenários traçados por analistas e economistas, que indicavam que a economia norte-americana passaria por um ciclo de recessão ainda maior, o que implicaria na redução de importação de produtos brasileiros como calçados, soja e suco de laranja. Segundo os mesmos analistas, durante um período que pode levar de semanas a meses, os consumidores se retrairão o que justificaria, por si só, o aumento da recessão naquele país, com reflexos em todos os outros mercados do mundo. A ser verdade que o barril de petróleo suba de cotação nas bolsas internacionais, o setor sucroalcooleiro pode ser beneficiado. Isto porque, na década de 70, com o advento da primeira crise internacional do petróleo, em pleno governo militar, duas ações foram implementadas e decisivas para a economia brasileira. A primeira, foi a implantação do Proalcool que sustentou durante anos a indústria automobilística nacional, gerou e distribuiu renda no interior do País e nos livrou da dependência do petróleo internacional. A outra, foi que pesados investimentos na prospecção de petróleo em terras e águas brasileiras, fizeram com que estejamos caminhando para um nível de produção suficiente para independermos de importações, o que deve acontecer em mais alguns meses, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo.
Com os ataques terroristas ao World Trade Center e ao Pentágono, as oportunidades para o setor sucroalcooleiro resurgem, pois aumento do preço do barril do petróleo, significa diretamente aumento da viabilidade do álcool hidratado e anidro (o que se mistura à gasolina e também já ao diesel). Significa também aumento dos derivados do petróleo Diferentemente com o que ocorre com a soja, onde os EUA são os maiores produtores mundiais – o Brasil é o segundo – e em caso de adoção de uma política de restrição às importações podemos perder parte deste mercado, o açúcar é um gênero de primeira necessidade e a sua importação é necessária, pois as usinas de açúcar (de cana e beterraba) americanas não conseguem produzir aos nossos custos. Aliás, a favor dos nossos produtores de cana e dos usineiros, ninguém no mundo consegue produzir aos nossos custos.
Assim, tudo aponta para um cenário positivo para o nosso setor sucroalcooleiro, a exemplo do que ocorreu quando do anúncio da crise de energia e novamente se buscou no setor uma solução que foi encontrada com a transformação do bagaço em energia, prática usual no Brasil desde 1940.
Sorte ou coincidência? Ambas, talvez. Na verdade a cana-de-açúcar é uma cultura que só traz vantagens, tanto do ponto de vista econômico, quanto social e ambiental. Mas, e por que é que este setor é tão frágil politicamente? Certamente ainda pagamos o preço do mercado regulado pelo governo.
Também pudera, pois foram décadas de um sistema totalmente tutelado pelo governo, que enchia seus cofres a cada ciclo de aumento de preços e, por outro lado, premiava alguns poucos empresários de discutível competência. Alguns faliram, outros mudaram de atividade e restam, ainda bem, poucos no mercado.
O industrial do setor sucroalcooleiro de hoje, tem o perfil do empresário empreendedor, que começa a se ajustar e a se movimentar no mercado, que investe na tecnologia agrícola e industrial, que acompanha as bolsas e usa os mais avançados sistemas de comunicação para se manter permanentemente informado.
Este empresário sabe que este é o caminho e que junto com os investimentos para redução de custos operacionais, deve acompanhar o investimento nas questões sociais e ambientais, fazendo parcerias inteligentes com seus fornecedores, colaboradores e as comunidades onde atua. Daí, para resolver o problema político do setor, é um pulo. Basta querer.
Manoel Ortolan é presidente da Orplana e Canaoeste