A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, em decisão anunciada na quinta-feira (dia 3 de fevereiro) avalizou a inclusão do álcool de cana brasileiro dentre os biocombustíveis que mais contribuem para a redução das emissões dos gases poluentes.
A medida foi precedida de cálculos da Agência, utilizando o produto brasileiro, concluindo que ele reduz as emissões dos gases nocivos em até 61% quando comparado com a gasolina e em mais de 20% acima do obtido com o álcool do milho produzido nos Estados Unidos.
É evidente a importância desse anúncio pela perspectiva de aumento do consumo dos biocombustíveis brasileiros, apesar das dificuldades de comercialização nos mercados mundiais e das próprias barreiras existentes no mercado americano.
Estas terão de sofrer revisão em breve, forçosamente.
Ao mesmo tempo em que a Agência dava curso a outras medidas de regulamentação do consumo dos biocombustív! eis e de proteção ao meio ambiente nos Estados Unidos, o presidente Barack Obama anunciou novos investimentos para os organismos públicos e as empresas privadas acelerarem os projetos que levem aos processos de produção da energia limpa.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos receberá uma parte substancial desses investimentos para a conversão de biomassa em energia.
Já me referi antes ao fato que o governo norte-americano está destinando 800 bilhões de dólares para o desenvolvimento das tecnologias que vão atender ao propósito de recuperar a autonomia energética que perderam no final do século passado.
Estou convencido de que esses programas vão fazer com que eles recuperem essa autonomia nos próximos dez anos.
Há, em certos ambientes, a tendência a acreditar que os Estados Unidos estão a caminho de um declínio inexorável e que em breve deixarão de ser a economia mais forte do mundo. É uma grande ilusão.
O que sustenta a liderança norte-a! mericana no mundo (e acredito que vai sustentar por muito tempo ainda) é a capacidade de inovação de sua sociedade, que se manifesta em todos os campos de atividade, notadamente no de desenvolvimento tecnológico.
Basta ver que nos anos recentes, mesmo quando aumentaram os problemas por conta do descontrole de seu sistema financeiro, o desenvolvimento científico continuou a acontecer.
Não houve nenhuma inovação importante que não tivesse sido iniciada nos Estados Unidos e sido depois copiada pelos demais países, em primeiro lugar pelos asiáticos – o que não tem nada de errado, porque o fato de a China copiar e produzir mais barato acaba tornando-as mais acessíveis ao resto do mundo.
A realidade é que eles conservam-se na dianteira do avanço tecnológico neste século 21.
O país deve voltar a crescer este ano a uma taxa aproximada de 3% do Produto Interno Bruto (PIB), o que, em se tratando de uma economia do porte da norte-americana, deve ajudar a solucionar u! ma parte dos problemas da economia mundial.
Uma expansão um pouco maior, de aproximadamente 3,5% ao ano, permite resolver o seu problema fiscal.
Os pesados investimentos em tecnologia vão produzir as inovações que ajudarão a construir o “mundo verde” que eles se propõem. Isso não exige um crescimento acelerado, a taxas de 6% ou 5% ao ano que os Estados Unidos nunca perseguiram.
Ao longo do tempo eles cresceram a taxas mais modestas -de 2,5% e 3% anuais-, suficientes para atravessar as turbulências que em muitas ocasiões foram maiores do que as de qualquer outro país.
É claro que, à medida que o mundo se desenvolve mais rapidamente, a importância relativa dos Estados Unidos diminuirá, mas não vejo que a liderança norte-americana possa ser ultrapassada num horizonte aí dos próximos 50 anos.
É uma grande ilusão pensar que os EUA estariam a caminho de um declínio inexorável.
Antônio Delfim Netto