Enquanto as nações que enxergam a realidade global de maneira estrutural, com preocupações coletivas, estão comemorando um passo evolutivo significativo, que é a entrada em vigor do Protocolo de Kyoto, a maior potência industrial do mundo, imbuída por interesses voltados para seus propósitos imediatos, se preocupa com a “saúde” de seu armamento atômico, conforme recentes investimentos anunciados nesta área. O que aqui se trata é questão da não-ratificação, por parte dos Estados Unidos, do Protocolo de Kyoto. Mas não é só isso. Trata-se de um paradigma de assimetria de valores jamais visto pela humanidade, no qual se investe maciçamente em armamentos altamente destrutivos e não existe compromisso com uma perspectiva de futuro saudável.
Baseado em justificativas infundadas, com interesses (sempre econômicos) semelhantes àqueles atrelados à invasão do Iraque (lembram das armas de destruição em massa?), o governo do Sr. Bush promove agora cortes nas verbas internas de saúde pública e se preocupa com a “health” de suas ogivas nucleares, porque estão com prazo de validade perto do vencimento. Por outro lado, os mesmos representantes do governo norte-americano, ao cuidar do meio ambiente e, em conseqüência, do futuro da humanidade (espécie da qual os norte-americanos ainda fazem parte), não exprimem maiores preocupações domésticas.
O problema está na devastação da Floresta Amazônica no Brasil- dizem, sem autocrítica para verificar (ou ao menos admitir) sua enorme contribuição para o aquecimento global. Nem a superprodução do filme The Day After Tomorrow, que exibe de maneira exagerada os efeitos da alteração de temperatura na terra, dando a entender que os próprios norte-americanos, pela localização geográfica de seu país, seriam severamente afetados por catástrofes naturais, serve para alertar a população dos Estados Unidos que poderia se organizar para exigir a participação de seu país na ratificação do protocolo.
Andando na contramão, o maior emissor de gases poluentes se recusa peremptoriamente (embasado em que mesmo?) a aderir a um protocolo internacional que visa cuidar do nosso futuro ambiental. E não é um futuro tão distante, que o digam os pesquisadores da NASA, que estão prevendo que este ano de 2005 será o mais quente de todos os tempos. Tudo isto, graças ao onipresente efeito-estufa. Voltando às bombas atômicas, estas sim! Estas têm a dedicação orçamentária compatível com seu alto poder de destruição. Assim, chega-se à inerente conclusão que o objetivo do sapiente governo norte-americano é o de manter a sua força imperial pelo poder bélico, atrelado à “saúde” de suas bombas nucleares.
Mas para que garantir tal hegemonia, sem a certeza de um futuro onde se possa usufruir a mesma? Tremenda falta de sintonia com o resto do mundo está causando prejuízos imediatos à sociedade norte-americana, como se verifica pela ameaça existente decorrente do terrorismo, que é fruto de uma política internacional ofensiva. Mas, o que não pode ser aceito, é que o maior poluidor mundial estenda os malefícios de seu egoísmo governamental contra todos nós, já que o efeito-estufa não seleciona vítimas como fazem os terroristas.
A explicação econômica da questão é a criação pelo protocolo da figura do crédito de carbono. Por ser uma nação considerada como grande poluidora, os Estados Unidos seriam altamente deficitários no que pertine ao crédito citado alhures. Em síntese apertada, poderíamos explicar a questão dizendo que a compra de crédito de carbono no mercado internacional garantiria à entidade adquirente o direito controlado de poluir.
O lado positivo dessa transação seria a garantia de que somente organizações ambientalmente responsáveis teriam condições de gerar os créditos, mediante o que se chama de seqüestro de carbono. Isto se daria com atividades de geração de energia limpa, preservação ambiental, replantio florestal, enfim, uma gama de ações que no final culminariam por beneficiar o planeta como um todo, estancando a degradação ambiental desenfreada que hoje nos assola. Com certeza não é do interesse da indústria norte-americana, sobretudo das grandes geradoras de energia suja, que dependem do carvão e do petróleo para funcionar, ter que aumentar seus custos com a aquisição de créditos de carbono para exercer as suas atividades, já que hoje isto não é necessário.
Talvez, em um futuro próximo, a consciência da inevitável necessidade de diminuição da emissão de gases poluentes para sobrevivência do ser humano, possibilite que a inversão de valores hoje existente na América cesse. Assim, quem sabe, veremos menos preocupação com a “saúde” das bombas e um maior cuidado com o bem estar da humanidade. Chegará um momento em que isso será imprescindível. Enquanto este tempo não chega, resta-nos cumprir o papel de signatários do protocolo, sendo claro que poderemos em muito nos beneficiar do seqüestro de carbono de nossas vastas áreas verdes, bem como, da geração de energia limpa do biodiesel ou da biomassa da cana-de-açúcar, dentre outras, possibilitando a geração de créditos de carbono em nosso favor, fazendo com que ao cumprir este necessário dever ambiental, ainda possamos gerar renda, sobretudo, para o Nordeste que tem vasto potencial a ser explorado nesta área.