Mercado

O novo impulso da agropecuária

As chuvas muito intensas neste verão na região Centro-Sul do País, além de graves acidentes que têm causado, não poderiam deixar de afetar a produção de frutas e hortaliças, com reflexos sazonais nos índices de preços. Também outras culturas, como soja, milho e algodão, em áreas localizadas, têm sido prejudicadas. Mas, no cômputo geral, o clima tem sido favorável nas principais regiões produtoras do País, prevendo-se que a safra 2006/2007 seja uma das maiores já colhidas no Brasil. No total, a colheita de grãos, pelas últimas estimativas, pode ficar bem próxima ao recorde verificado em 2002/2003 (123,6 milhões de toneladas), calculando-se um crescimento de 6%, em comparação com a safra 2005/2006.

O estado de desânimo no campo até meses atrás rapidamente se reverteu, podendo-se dizer que é hoje entusiasmante. Os preços são sempre o melhor incentivo e o caso do milho é um exemplo notável. Tradicionalmente, essa cultura tinha um papel secundário no Brasil, sendo uma alternativa ou um complemento para a soja e, em outros tempos, para o café. Mas, pelo que hoje se vê, o milho conquistou um lugar de destaque na agricultura brasileira e a tendência é mantê-lo de ora em diante.

Pelas projeções correntes no mercado, a safra de milho de 2006/2007 (45,5 milhões de toneladas, contando a colheita de verão e a safrinha) pode ser a segunda melhor da história ou talvez conquiste o primeiro lugar. Isso se deve à reação dos preços no mercado internacional, diretamente relacionada com o uso do milho, nos Estados Unidos, para a produção de etanol para adição à gasolina.

Como se sabe, o milho não é ideal para a produção de etanol, tanto assim que, nos EUA, estão sendo feitos experimentos com uma espécie de capim chamada de “switchgrass” (“Panicum virgatum”) como sucedâneo, para evitar um encarecimento maior das rações animais, das quais o milho é componente essencial.

O Brasil tem outras alternativas para a produção de biocombustíveis, relevando-se a cana-de-açúcar. Mas, dada a demanda internacional de milho, é previsível que os preços internos aqui se elevem, o que surtirá efeito sobre os preços das rações. Isso será tanto mais sensível porque os preços da soja no mercado internacional estão também em ascensão.

Deve ser notada a expectativa de bons ganhos de produtividade nas plantações de milho, graças às condições climáticas benéficas. A expansão da área plantada com o cereal para a próxima safra também deve crescer. Segundo especialistas, o Brasil, que nunca se destacou como forte exportador de milho, pode alimentar a esperança de sê-lo em futuro próximo.

Tudo faz crer que, em razão disso, a participação do agronegócio no saldo da balança comercial, que no ano passado foi de 93%, deve permanecer no mesmo patamar neste ano. Não é inusitado prever, a essa altura, que, ainda que a economia cresça a uma taxa superior a 4%, o que terá impacto sobre as importações, o Brasil possa vir a registrar em 2007 um superávit comercial da ordem de US$ 40 bilhões a US$ 45 bilhões, sem alteração significativa em relação aos últimos dois anos.

De longe a melhor notícia é a recapitalização do campo, com as boas receitas não só em divisas, mas também provenientes do mercado interno. O efeito multiplicador disso será considerável, dando impulso à recuperação da produção de caminhões, máquinas e implementos agrícolas.

Não se pode esquecer também de que, ao chover nas cabeceiras, como se costuma dizer, haverá vantagens em cascata para toda a economia, ao elevar-se o nível de demanda agregada. Os produtores agrícolas, ao que se espera, poderão dispor de mais recursos para investimentos, que precisam agora fazer depois de um período de vacas magras, especialmente na região Sul do País.

Essa conjuntura dá maior urgência aos investimentos do governo em parceria com a iniciativa privada para a melhoria das condições de infra-estrutura para escoamento das boas safras, que vêm confirmar a posição do Brasil como um dos grandes celeiros mundiais.

kicker: Entre outros grãos, o milho conquista uma posição de destaque na produção e a tendência é mantê-la de ora em diante