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O novo êxodo que se anuncia

A expansão da cultura da cana-de-açúcar no Sudeste e Centro-Oeste do País resultará, somente no Estado de São Paulo, na desocupação de 10 mil a 12 mil propriedades rurais com tamanho médio de 100 hectares, de acordo com estimativa da Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul (Orplana). Esses números levam em conta as projeções do setor sucroalcooleiro de elevar a produção nacional dos atuais 400 milhões para 560 milhões de toneladas de cana até 2010.

O centro desse novo “boom”, representado por mais de 90 novas usinas em construção ou projetadas, será de novo São Paulo, mais exatamente a região Noroeste, a única do planalto paulista ainda não ocupada pela cana-de-açúcar. De tradição pecuária, a ponto de décadas atrás a cidade de Araçatuba ter sido o centro regulador da cotação nacional do boi gordo, sediando a então “praça do boi”, ali existem importantes núcleos de produção de matrizes bovinas e de criações extensivas. O Noroeste ainda reflete o que foi todo o estado antes da implantação da cultura canavieira, quando era líder em produção dos principais itens da agropecuária, privilégio perdido a partir dos anos 70.

Beneficiadas pela boa qualidade do solo, entre as bacias dos rios Tietê e Paraná, no Noroeste, além da pecuária, são muitas as propriedades que se dedicam ao cultivo de grãos, de fruticultura, de criatórios de pequenos animais, entre outros.

A atividade rural deu um razoável suporte econômico para as cidades da região, onde também se desenvolveram micro, pequenas e médias indústrias, com pólos de expressão nacional como o do calçado infantil em Birigüi e de confecções em Guararapes. Diante dessa estrutura diversificada, a chegada da monocultura canavieira corre o risco de repetir erradamente o êxodo que se viu a partir do início dos anos 70 nas demais regiões paulistas ocupadas pela cana.

Nestas, as propriedades rurais ficam desabitadas e quem vivia direta ou indiretamente da terra mudou-se para a cidade, acelerando o fenômeno do inchaço urbano, cujo primeiro resultado foi o aparecimento de favelas e as conhecidas Cohabs, hoje, ironicamente, habitadas por pessoas que, em sua maioria, formam um reduto de mão-de-obra das usinas de açúcar e álcool. Ou seja, esvaziou-se o campo, a ponto de estudos feitos na época terem apontado a existência de mais de 400 mil moradias rurais abandonadas, enquanto as cidades passaram por um crescimento forçado e sem planejamento.

As conseqüências são conhecidas. Exigências cada vez maiores nas áreas de saneamento, educação, saúde, lazer, raramente atendidas, junto com desemprego, falta de qualificação profissional e crescimento da violência urbana.

Por isso, é preocupante a possibilidade de esse novo êxodo que se anuncia no Noroeste paulista repetir os erros do passado recente. Evitar que isso aconteça deveria estar entre as prioridades não apenas do poder público mas, principalmente, do setor sucroalcooleiro, o principal interessado na ocupação dessas terras.