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O novo alcoolduto de 1.150 km

Um ambicioso projeto nacional está prestes a sair do papel para reforçar a infra-estrutura do biocombustível. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou na quinta-feira 3 que o governo dará a partida na construção do alcoolduto que ligará o terminal da cidade goiana de Senador Canedo à refinaria de Paulínia, em São Paulo. “O alcoolduto vai sair, porque ele está no Programa de Aceleração do Crescimento e, até 2010, nós teremos que ter o duto passando por essa região”, disse Lula na cidade mineira de Uberaba. A tubulação se estenderá por nada menos que 1.150 quilômetros e nela serão usadas 180 mil toneladas de tubos de aço carbono – metal leve e resistente utilizado como matéria-prima na fabricação de bicicletas. Para construir o gigantesco duto, o governo pretende investir R$ 500 milhões. A construção levará em torno de dois anos e, depois de concluída, a tubulação será capaz de transportar até seis bilhões de litros de álcool. O empreendimento segue o plano estratégico da Petrobras, segundo o qual ela deixa de ser apenas uma petrolífera e passa a ser uma empresa de energia. “Não estamos focando apenas em petróleo e gás, mas em outras energias renováveis, como álcool e biodiesel”, diz Paulo Roberto Costa, diretor da área de Abastecimento e Refino. O alcoolduto será um marco dessa nova fase.

O presidente do Sindicato das Indústrias de Álcool de Goiás, Igor Montenegro, dá a exata dimensão da importância que tem a obra: “O custo de transporte até o porto, com o alcoolduto, chega a ser 16 vezes menor que o transporte rodoviário.” O projeto deverá levar à duplicação da produção sucro-alcooleira de Goiás até 2013. Os produtores de Minas Gerais também nutrem uma grande expectativa quanto ao alcoolduto: a tubulação deverá atravessará 200 quilômetros do subsolo mineiro. “Essa obra é indispensável para sustentar o crescimento da produção do Estado”, diz Luiz Custódio Cotta Martins, presidente do Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool de Minas Gerais (Siamig) – hoje o álcool exportado é transportado para o porto em caminhões. “É um contra-senso gastar óleo diesel para carregar álcool”, diz ele. Segundo a Petrobras, o empreendimento vai contribuir para o aumento da competitividade no mercado externo e o desenvolvimento de outras regiões do Brasil além de São Paulo, que é a principal produtora de cana-de-açúcar.

A obra só se tornará realidade, porém, depois que o Japão confirmar o seu propalado interesse na importação do etanol brasileiro. Isso deve acontecer nos próximos meses quando será firmada uma parceria entre a Petrobras, a trading japonesa Mitsui e o setor privado. O acordo prevê que serão construídas 40 destilarias de álcool, em Goiás, Tocantins, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, tudo com financiamento da Mitsui. Os usineiros cederão as terras e produzirão a cana-de-açúcar e a Petrobras fará a distribuição através do alcoolduto. Em dezembro último, a empresa brasileira e a estatal japonesa Nippon Alcohol Hanbai criaram a empresa Brazil-Japan Acohol para avaliar o potencial do álcool brasileiro no mercado do Japão, país onde a mistura de 3% de álcool à gasolina já é permitida pela legislação. A expectativa é que os japoneses tenham capacidade de absorver 1,8 bilhão de litros por ano. Na cerimônia realizada no Rio de Janeiro na quarta-feira 2, quando foi assinado o protocolo de intenções para a construção do duto, Paulo Roberto Costa disse que a Petrobras deverá exportar até o fim de 2007 cerca de 250 milhões de litros de álcool combustível, cinco vezes mais que o volume exportado em 2005.

Logo que tiver o sinal verde dos japoneses, a Petrobras abrirá estudos na região onde passará o duto – os técnicos avaliam a viabilidade da construção de um ramal até a cidade paulista de Ribeirão Preto, região que concentra 80% da produção nacional do combustível. Só então a construção será iniciada. Estima-se que serão necessários pelo menos dez mil homens para a empreitada. O próprio presidente Lula é um dos avalistas deste projeto. As soluções tecnológicas adotadas no Brasil para expandir o biocombustível estão atraindo o interesse até mesmo de quem tem mais intimidade com o mundo cyber. No final do mês passado, Larry Page e Sergei Brin, criadores e proprietários do Google, a marca mais valiosa do mundo, estiveram na cidade paulista de Piracicaba para conhecer a tecnologia de produção de combustíveis renováveis. Bill Gates também mandou emissários de uma de suas empresas, a Pacific Ethanol, para avaliar a possível compra de usinas brasileiras e estudar a possibilidade de construir destilarias de álcool. A intenção de Gates seria investir US$ 200 milhões para criar um canal de exportação para o mercado americano. O novo e monumental alcoolduto que ligará Senador Canedo a Paulínia é apenas a primeira de uma série de grandes projetos no âmbito do biocombustível.