Mercado

O futuro do Brasil e da engenharia

O Brasil vive, hoje, um certo clima de euforia diante dos bons resultados econômicos. Escorado pelo excelente desempenho das nossas exportações, principalmente as do agronegócio, o País já começa a vislumbrar um período de crescimento. Sou partidário de que este crescimento seja duradouro, com planejamento e com o estabelecimento de um cronograma claro de investimentos em setores estratégicos, como o de infra-estrutura, e na área de inovação tecnológica, no sentido de agregar valor às exportações. Caso contrário, viveremos eternamente à deriva, reféns do bom humor do mercado e à espera de ondas favoráveis que impulsionem nossa economia.

Acima de tudo, necessitamos fomentar a inteligência nacional, para não corrermos o risco de empregar nossos valiosos recursos de forma irracional, além de evitar a dependência externa na área de pesquisa e desenvolvimento.

Nesse contexto, destaco a importância da engenharia, por se tratar de uma ferramenta indispensável para promover o desenvolvimento e o núcleo da concepção de qualquer empreendimento. É a fase – dentro de todo o processo – de menor investimento e de maior potencial de agregação de valor.

No último dia 11 de dezembro foi comemorado o dia do engenheiro e do arquiteto. Como engenheiro, formado pela Escola Politécnica da USP, sei o quanto estes profissionais podem contribuir para o desenvolvimento do País. Afinal, foi nos corredores da Poli/USP que surgiu o primeiro computador brasileiro e é lá, também, que está sendo desenvolvida a tecnologia para plataformas de extração de petróleo em águas profundas.

Apenas para efeito de comparação, os engenheiros representam apenas 10% das graduações no Brasil, das quais 45% na área civil. Nos Estados Unidos, os engenheiros são mais de 25% do total e há mais diversificações, ficando 14% na área civil. Formamos hoje cinco engenheiros para cada mil trabalhadores economicamente ativos, ao passo que no primeiro mundo o número é de 15 para 25 mil.

Mesmo assim, o reconhecimento internacional desse importante setor da nossa economia é uma prova de que talento não nos falta, o que nos falta é investimento. Além disso, também não faltam áreas de atuação, diante dos nossos “gargalos” em áreas como energia, telecomunicações, transportes e saneamento/abastecimento, pontos fundamentais para fazer funcionar a engrenagem do desenvolvimento sustentável. Precisamos aproveitar o bom momento para fazer nossa lição de casa, a fim de garantir uma melhora na qualidade de vida da população, ao mesmo tempo em que reservamos um lugar de destaque para os produtos brasileiros nesse competitivo mercado globalizado.

Um bom exemplo reside no setor de saneamento e abastecimento de água. Um estudo do Ministério das Cidades aponta que o País precisa investir R$ 185 bilhões em 20 anos para atingir a universalização do serviço de água e esgoto, e mais R$ 18,27 bilhões, entre 2004-07, para expansão e reposição dos ativos do setor.

Nas exportações, setores como o aeroespacial e o de veículos estão dando uma aula de como conquistar mercados, agregando valor aos nossos produtos. Exemplos como o da Embraer, a quarta maior fabricante de aviões no mundo, e das montadoras, com modelos de classe mundial, têm apresentado crescimentos surpreendentes nas exportações.

Parafraseando o presidente da Academia Nacional de Engenharia (ANE), Paulo Bancovsky, “o poder de uma nação hoje está muito mais na tecnologia e no conhecimento do que na economia em si. Um país tem de ser capaz de transformar conhecimento em produtos inovadores”.

Neste mês, entrou em vigor da Lei de Inovação Tecnológica, que estimula a parceria entre empresas privadas e universidades públicas na pesquisa científica. A partir de agora, as empresas poderão utilizar a estrutura dos laboratórios universitários para o desenvolvimento de projetos e, em contrapartida, as empresas terão de investir mais em pesquisa e desenvolvimento, a fim de aumentar a competitividade dos produtos brasileiros. É um bom começo, mas o governo não pode se privar do seu papel como indutor e fomentador de investimentos em infra-estrutura, pesquisa e desenvolvimento.

Nesse desafio rumo ao desenvolvimento, nós precisamos evitar a invasão predatória de escritórios de consultoria estrangeiros, ao mesmo tempo em que ampliamos a atuação de nossa engenharia, tanto na área de projetos como de execução de serviços, obras ou construção de equipamentos. Assim, estaremos construindo alicerces sólidos para o desenvolvimento do Brasil e dos brasileiros.

Arnaldo Jardim é deputado estadual, engenheiro civil (Poli/USP),

[email protected], www.arnaldojardim.com.br.