O combustível brasileiro que transporta pessoas e cargas é muito caro em se tratando de um País autossuficiente em petróleo e número um na produção de biocombustíveis. Recentemente, em Campinas, cidade do interior paulista, uma região transformada em mar de cana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou seriedade dos empresários ligados ao setor canavieiro.
“Quando a gente tenta fazer do etanol um componente da matriz energética, é preciso seriedade”, disse, para em outro momento criticar a atitude empresarial de conveniência. Em outras palavras, Lula disse o seguinte: quando o preço do álcool está bom, o empresário é do setor de energia. Quando o açúcar sobe de cotação, ele se bandeia para o ramo de agricultura.
Nessa linha de raciocínio, em 2009 o empresário preferiu a agricultura, atraído pelo preço do açúcar no mercado internacional. Com isso, a oferta do etanol no mercado interno foi controlada pelo preço, o que fez o litro aumentar a ponto de inviabilizar o combustível da cana na maioria dos Estados.
Levantamento mês a mês feito pela Ticket Car, do grupo Accor, em 8.000 postos de combustíveis de todo País mostrou que na média nacional o preço do litro do etanol estava em dezembro do ano passado 5,52% mais caro em relação a dezembro de 2008; no mesmo período a gasolina encareceu 0,48%. Ou seja, o aumento do etanol, na média nacional, foi 11,5 vezes superior ao da gasolina.
Ainda no cotejo dezembro 2009 e dezembro 2008, o etanol caiu de preço em três Estados, empatou em outro e foi reajustado em 23 localidades. Na mesma comparação, a gasolina caiu de preço em 11 Estados e teve reajustes (leves) em 16.
Ainda bem que desde 2003 existe o carro flex fuel, tecnologia que permite ao motorista eleger o combustível (gasolina e álcool ) que vai usar. O carro flex permite de fato flexibilidade ao admitir no mesmo tanque os dois combustíveis juntos ou separados e em qualquer proporção.
A regra é simples para abastecer carro com tecnologia flex fuel: quando o preço do álcool custar 70% ou mais, recomenda-se o uso da gasolina, combustível de maior poder calorífico e que rende mais rodagem.
O sucesso do carros flex fuel tem sido estonteante. Na estreia da tecnologia em 2003 foram vendidos 48.178 veículos. Em 2009, o número passou para 2.655.298 veículos, um crescimento explosivo de 5.411%.
O álcool não é soberano nessa tecnologia, mas mesmo assim entrou na onda e o consumo de etanol hidratado nesse período saiu de 3,2 bilhões de litros para 16,4 bilhões de litros, uma expansão de 412%, segundo dados da ANP, agência que regula os derivados de petróleo e biocombustíveis.
A gasolina, também admissível nos carros flex fuel, teve um comportamento extremamente mais discreto. O consumo em 2009, de 25,4 bilhões de litros, ficou 16,5% acima do registrado em 2003.
Tecnologia será debatida
O Brasil é campeão mundial de produção de cana-de-açúcar. A redescoberta do etanol como combustível a partir dos carros flex fuel, deu impulso aos canaviais. Neste momento em que o combustível verde perde competitividade momentânea nos tanques dos carros, nada melhor que discutir seu futuro. Parte dessa agenda será cumprida em dois seminários simultâneos sobre açúcar e etanol, um deles relativo à tecnologia de produção.
O evento, de 22 a 24 de março no Renaissance São Paulo Hotel trará temas importantes. Um deles abordará a evolução da produção do etanol a partir da cana para tecnologias de segunda e terceira gerações, a cargo de Jaime Finguerut, do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC). Outro tema é o aumento da produtividade na produção de etanol, palestra que será proferida pelo professor José Goldemberg, do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP (Universidade de São Paulo).
Biocombustível avança na matriz energética
Em 2009, apesar da derrapada do etanol, que teve os preços salgados demais nas bombas, o Brasil deu show em matéria de combustível renovável. Dos 108,8 bilhões de litros de vendidos no País, 24,2 bilhões de litros (22,2%) vieram de fontes renováveis (etanol hidratado, etanol anidro e biodiesel). Foi um avanço em relação a 2008, quando dos 105,9 bilhões de litros comercializados, 20,5 bilhões de litros (ou 19,4%) vieram de fontes renováveis.
Nos biocombustíveis , o álcool puxou a fila, com elevação de 23,9% de consumo (de 13,2 bilhões de litros em 2008 para 16,4 bilhões de litros em 2009). No etanol anidro (misturado à gasolina) houve elevação de 0,9% (de 6,2 bilhões de litros para 6,3 bilhões de litros), enquanto no biodiesel (misturado ao diesel) o consumo subiu 39,1% (de 1,1 bilhão de litros para 1,5 bilhão de litros ano passado).
Enquanto na soma dos biocombustíveis o volume de 24,2 bilhões representou 18% a mais sobre o volume de 2008, de 20,5 bilhões de litros, nos derivados de petróleo o consumo de 84,6 bilhões litros apresentou queda de 0,9% em relação aos 85,4 bilhões de litros de 2008.
Com Volvo e Michelin, Itapemirim quebra tabus
A Viação Itapemirim, fundada pelo ex-pracinha e empresário capixaba Camilo Cola, atualmente com 86 anos e deputado federal pelo Espírito Santo, prevê fechar 2010 com faturamento de R$ 650 milhões, 8% superior à receita de 2009, disse à coluna o diretor superintendente da Itapemirim Wilson Taranto.
A empresa tem 1.200 ônibus que percorrem 160 milhões de quilômetros e consomem em torno de 55 milhões de litros de óleo diesel.
Revendedor Mercedes-Benz em Cachoeiro do Itapemirim, o grupo criado por Cola por vezes quebra tabus. Ano passado, por exemplo, pela primeira vez comprou ônibus Volvo, um lote de 50 caros modelo B12R, atraída pelos itens de segurança, conforto ao passageiro e boa receptividade dos motoristas, segundo Taranto.
Fiel à marca Pirelli, ele diz que a Itapemirim testa a marca Michelin, pneus fabricados no Rio de Janeiro. “Precisamos ter produtos para comparar. ” Diz que os testes com a Michelin continuam. Em relação à marca Volvo, novas compras serão feitas em 2010. “Dos 150 ônibus que estamos prevendo para renovação da frota em 2010, talvez 100 unidades sejam Volvo”, disse.