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O custo do aquecimento

Quanto vai custar o aquecimento global para o nosso País? Pode chegar a R$ 3,65 trilhões até a metade deste século. As perdas econômicas serão equivalentes a pelo menos um ano de crescimento nos próximos 40 anos se nada for feito para mitigar impactos. As regiões Norte e Nordeste tendem a ser as mais afetadas e as desigualdades sociais e regionais devem crescer. Estas são algumas das conclusões do estudo “Economia da Mudança do Clima no Brasil: custos e oportunidades”, lançado na semana passada.

Inspirados no Relatório Stern, estudo britânico que em 2006 calculou o custo da mudança climática em 20% do Produto Interno Bruto (PIB) global, pesquisadores de 11 importantes instituições brasileiras partiram de cenários do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) para ca! lcular o impacto do aquecimento global nas contas do País. Adotando modelos climáticos desenvolvidos pelo Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) / Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o estudo abordou setores cruciais: agricultura, energia, uso da terra e desmatamento, biodiversidade, recursos hídricos, zona costeira, migração e saúde.

O trabalho partiu de dois cenários de crescimento econômico, sendo o primeiro baseado em economia “limpa”, prevendo ações mais eficientes para conter o desmatamento; mais investimentos em transporte público; matriz energética com menos termelétricas; processos industriais ambientalmente corretos; mais transporte ferroviário de carga; e também um investimento maior em educação.

O estudo chegou a quanto cada brasileiro deve perder em 2050 com os efeitos do aquecimento: entre R$ 534,00 e R$ 1.603,000 por ano, o que não deve ocorrer de forma linear nas diversas regiões do País

Um dos problemas mais claros! é o estresse hídrico, que afeta tanto a agropecuária quanto a geração de eletricidade. Se nada for feito para adaptar a produção às mudanças do clima, todas as culturas – com exceção da cana-de-açúcar – sofrerão redução das áreas com baixo risco de produção. A perda anual pode passar de R$ 10 bilhões. No Nordeste, a capacidade de pastoreio do gado de corte pode cair em 25%. Com a redução da vazão dos rios, o sistema elétrico vai perder capacidade de geração, principalmente nas regiões Nordeste e Norte. Nas zonas costeiras, a elevação do nível do mar pode causar prejuízos de até R$ 207,5 bilhões até 2050 com a perda de patrimônio.

Para a Amazônia, o levantamento estima perda de até 38% das espécies, além de R$ 26 bilhões a menos por ano com a perda de 12% dos serviços ambientais. O cenário considera a redução de 40% da cobertura vegetal da floresta, que deverão ser convertidos em savana.

Adaptação

Na agricultura, modificações genéticas foram apontadas como alternativas para minimizar impactos da mudança do clima, exigindo investimento em pesquisa da ordem de R$ 1 bilhão por ano. No setor da energia, seria preciso instalar uma capacidade extra para gerar entre 162 TWh (25% da oferta interna de energia elétrica em 2008) e 153 TWh por ano (31% da oferta interna de energia elétrica em 2008), de preferência com geração por gás natural, bagaço de cana e energia eólica, a um custo de capital da ordem de US$ 51 bilhões a US$ 48 bilhões. O custo de ações de gestão costeira e outras políticas públicas somariam R$ 3,72 bilhões até 2050, ou cerca de R$ 93 milhões por ano.

Oportunidades

O estudo traçou também um panorama das oportunidades em investimentos que ajudem o País a se adaptar à mudança do clima e a minimizar emissões de gases-estufa, na qual o combate ao desmatamento tem papel crucial. Se pecuaristas na Amazônia recebessem US$ 3 por tonelada de carbono que o desmatamento emite ao abrir pastos, derrubar árvores já nã! o seria compensador.

A substituição dos combustíveis fósseis por fontes limpas pode evitar o lançamento de 92 a 203 milhões de toneladas de carbono equivalente até 2035. Por outro lado, as exportações de etanol acrescentariam de 187 milhões a 362 milhões de toneladas às emissões evitadas em escala global.

Para isso, a mudança no clima deve constar nas políticas públicas e é urgente aumentar o conhecimento técnico sobre o tema. O caráter pioneiro do estudo implica em limitações que foram consideradas na ponderação dos resultados. Por outro lado, foram deixadas para pesquisas futuras as análises locais, dimensões institucionais, legais e culturais, além dos impactos sobre a infraestrutura.

Perspectivas

Macroeconômicas

Perdas no PIB brasileiro – Entre R$ 719 bilhões e R$ 3,6 trilhões Perda anual para o cidadão – entre R$ 534,00 R$ 1.603,00 – redução no consumo – entre R$ 6.000,00 e R$ 18.000,00.

Regionais

Regiões mais vulneráveis: Amazônia e! o Nordeste – Na Amazônia, um aquecimento de 7-8°C em 2100, resultaria em redução de 40% da cobertura florestal na região sul-sudeste-leste (bioma savana) – No Nordeste, as chuvas diminuiriam 2-2,5 mm/dia até 2100, causando perdas agrícolas em todos os estados. O déficit hídrico favoreceria um retrocesso à pecuária de baixo rendimento.

Setoriais

Recursos hídricos – Diminuição brusca das vazões até 2100 em algumas bacias, principalmente na região Nordeste.

Energia

Perda de confiabilidade no sistema de geração de energia hidrelétrica, com redução de 31,5% a 29,3% da energia firme e impactos mais pronunciados nas regiões Norte e Nordeste.

Agropecuária

Com exceção da cana-de-açúcar, todas as culturas sofreriam redução das áreas com baixo risco de produção, em especial soja (-34% a -30%), milho (-15%) e café (-17% a -18%). A produtividade cairia, em particular, nas culturas de subsistência no Nordeste .

Zona costeira

No pior ce! nário de elevação do nível do mar e de eventos meteorológicos extremos, a estimativa dos valores materiais em risco ao longo da costa brasileira é de R$ 136 bilhões a R$ 207,5 bilhões