Todos os dias os jornais estão repletos de notícias sobre o setor sucroalcooleiro. No Brasil, os movimentos do mercado indicam a consolidação do setor, além de pesados investimentos estrangeiros para atender à crescente demanda por biocombustíveis. A Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar) prevê que, nesta safra, cerca de 22% da moagem de cana do Centro-Sul seja realizada por companhias de capital estrangeiro, 15% a mais que na temporada anterior.
Seguindo o mesmo ritmo, a produção de etanol no Brasil deve chegar a 28 bilhões de litros e o consumo interno passará dos 25 bilhões. A previsão de crescimento do total de carros flex no país também é animadora, e deve sair dos 41% dos veículos para 50% no próximo ano.
A consolidação do setor também deve ser objeto de análise. Desde 2000, já foram realizados 99 processos de fusões e aquisições de empresas sucroalcooleiras no Brasil. Além disso, em 2005, cinco empresas eram responsáveis por 12% da produção brasileira, porcentual que deve passar para cerca de 27% nesta safra. Em janeiro, Shell e Cosan fecharam uma parceria que consiste na transferência, para uma nova companhia, de seus ativos de produção de etanol e açúcar e de distribuição de combustíveis. Com a entrada de petroleiras estrangeiras na produção de álcool, a Petrobras indica ter interesse pela aquisição de usinas para crescer mais rápido. Além disso, a construção de novas usinas também parece estar nos planos da estatal, que por meio da Petrobras Biocombustível (PBio) precisa acelerar seu crescimento em meio aos movimentos de seus concorrentes do setor de petróleo, que começam a entrar também no de etanol.
Os mais diversos debates têm sido criados envolvendo a cana-de-açúcar brasileira, que chama a atenção de todo o mundo. Recentemente, os Estados Unidos confirmaram que o bicombustível brasileiro é “avançado”, renovável e com baixo teor de carbono. Isso pode contribuir para a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa em até 61%, quando comparado à gasolina.
Desde o início do programa Proálcool, em 1975, o número de carros movidos a álcool e dos chamados carros flex não para de crescer – e não deve parar tão cedo. O número de veículos flex fuel produzidos no Brasil saltou de 1,3 milhão em 2006 para 2,5 milhões em 2009. Além disso, a previsão é de que nos próximos anos o produto substitua gradualmente o açúcar como o principal produto do setor sucroenergético do Brasil, gerando cada vez mais oportunidades para empresas e investidores. O Brasil já é o maior exportador mundial de etanol, com cerca de 60% do mercado global, mas é preciso lembrar que o país enfrenta desafios em alguns mercados, como é o caso do norte-americano – que produz etanol a partir de milho e mantém, de forma protecionista, elevadas tarifas para o nosso produto.
No Paraná, o preço médio do etanol nos últimos 12 meses foi de R$ 1,54, 16,41% menor do que o preço médio no restante do país, de acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Devido à alta procura, no mês passado o produto chegou a faltar em alguns postos do estado. No geral, as usinas paranaenses ainda estão moendo cana da safra passada, mas muitas já começam a misturar o produto com o da nova safra. Desta forma, este mês deve ser muito bom para o setor no estado, e os preços ao consumidor devem diminuir ainda mais. Embora sem estatísticas precisas sobre o tema em nosso estado, a venda de carros flex em solo paranaense indica estar indo muito bem, tanto quanto no resto do Brasil.
Para preencher a lacuna causada pela diminuição gradual das reservas mundiais de petróleo, promissores veículos elétricos de alta performance com o Chevrolet Volt e o Tesla Roadster, da americana Tesla Motors prometem entrar na briga por uma fatia do mercado automobilístico. Além disso, o governo brasileiro deve aprovar nos próximos meses a desoneração fiscal para carros elétricos, em uma medida para ajudar na meta de reduzir até 2020, cerca de 36% das emissões de poluentes na atmosfera. Porém, por muitos anos ainda, o etanol deve prevalecer em nosso mercado. Prova disso é que as vendas de carros bicombustíveis no primeiro mês do ano bateram a expressiva marca 90% do total de automóveis comercializados. Com certeza, não vai demorar muito para que o etanol se torne também o combustível preferido da maioria dos motoristas ao redor do mundo.
Anneliz Pesch é administradora de empresas